quarta-feira, 25 de julho de 2012

Vivendo em uma fortaleza - Rev. LUCIANO P. VERGARA

Leia Salmos 27.1-7***** O salmista fala de um lugar iluminado e seguro. Em sua vida, Deus lhe proporciona luz e salvação. Nesse lugar, o autor sente-se protegido, mesmo que esteja cercado por um exército. Que lugar formidável é esse? Qual fortaleza inexpugnável lhe serve de morada? O rei Davi, que escreveu o Salmo 27, ficou muito triste quando soube da vitória de suas tropas contra as de seu filho Absalão, que usurpara o reinado, provocando a fuga do próprio pai. Absalão, agora, estava morto. Mas a atitude do rei precisava considerar a continuidade do reino e o retorno à normalidade. Havia terminado a tirania. Seu povo estava livre e o trono, legitimado. De onde vinha a confiança do rei? Vinha do fato de poder ele invocar a fidelidade do seu Deus, de estar oculto sob o teto de sua habitação – o pavilhão. As esperanças de Davi, em momentos de angústia voltavam-se para o tabernáculo, a tenda do santuário, a casa de Deus. Teve, provavelmente, a mesma lembrança que temos em nossas lutas: nós nos lembramos da igreja e do povo que ora. Mais ainda: o nosso templo é o próprio Jesus Cristo (Jo 2.19-22), o qual, mesmo tendo sido morto, ressuscitou em três dias, isto é, reergueu o verdadeiro templo – seu corpo – da morte. Daí, concluímos que Davi, mesmo considerado vencido e acabado, voltou ao trono para terminar gloriosamente o seu reinado porque se sentia abrigado pelo templo e fortaleza de seu Deus. Ele creditou a Deus sua vitória, pois não hesitou em clamar: “Ouve, Senhor, a minha voz..., responde-me.”

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Modelo de sociedade - Leia a Bíblia em Eclesiastes 4.9-12

“Em casa que falta pão, todo mundo grita e ninguém tem razão”, ensinava o antigo ditado. Vivemos, hoje, em uma sociedade competitiva, na qual disputar é mais comum do que repartir. Obviamente, quando a solução para encontrar conforto e satisfação for a mera aplicação de um raciocínio quantitativo, faz sentido haver disputa entre as pessoas. Mas seria esta a única verdade possível, o único modo de obter uma condição satisfatória de vida? A Bíblia ensina que há como se obter uma “melhor paga do trabalho”: a partilha de esforços. Dois indivíduos, atuando juntos na mesma empreitada, podem terminá-la mais rápido, com resultados melhores. Isto porque, quando somam as habilidades e esforços de ambos, o que eles alcançam ultrapassa o resultado matemático. Na partilha, o estímulo emocional da boa vontade os anima a alcançarem mais do que se estivessem isolados, sem comunhão, sem solidariedade. O que aprendemos com a passagem de Eclesiastes é que a partilha potencializa nossos esforços e multiplica os resultados. Quando uma comunidade, diante de um problema, busca uma solução compartilhada por todos, não é apenas aquele problema que é solucionado; desaparecem conflitos, depressões são superadas, a auto-estima melhora e as pessoas passam a usar o mesmo modelo para a solução de outros problemas. No fim, o ganho é sempre maior do que estar a sós. É preciso vencer o costume de se isolar, de tentar resolver as coisas apenas de um jeito, de viver sem se incomodar com o que incomoda o vizinho ao lado. Em Cristo, somos família, somos comunidade de direitos e responsabilidades, somos povo de Deus, que mutuamente se respeita e se ama. E, segundo a promessa de Jesus (Mt 16.18), nem as portas do inferno podem resistir a esse povo que o Mestre chamou de igreja.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Brasil: 22,2% de evangélicos - Luciano P. Vergara, jornalista

A divulgação do censo do IBGE, com dados relativos a 2010, trouxe a lume o aumento significativo e inquietante da presença do segmento evangélico na população brasileira. Somos hoje algo em torno de 42 milhões de pessoas que assumem sua identidade com as práticas das mais variadas igrejas evangélicas. Ainda é um fenômeno marcadamente urbano, mas não exclusivamente das grandes metrópoles. Se um dia foi tido como um fenômeno apenas dentre as classes proletárias, hoje ser evangélico também pode ser visto como um movimento socialmente emergente, com empresários, profissionais liberais destacados e integrantes do alto funcionalismo em todas as esferas. O impacto econômico e a gama de serviços e produtos ensejados pelo segmento são visíveis na publicidade, nos meios de comunicação de massa, face ao incremento de sua produção cultural. Na esfera intelectual, os meios acadêmicos de hoje contam, cada vez mais, com profissionais, pesquisadores, estudantes e empreendedores que assumem a sua condição de evangélicos. Porém, existe o risco fortíssimo de acomodação filosófica e de um pacto dessa camada emergente com os valores, práticas e objetivos da elite burguesa e política. A combatividade de uma minoria, historicamente herdeira da expansão missionária do século XIX e que atingiu sua maioridade a partir dos anos 30 do século passado, pode ser sucedida por uma redefinição de seu papel social e político em razão de ter alcançado as benesses da ascensão social. Deste modo, supor que em breve os evangélicos ultrapassarão a metade da população do país não justifica repousar sobre louros históricos. Uma questão de tempo, talvez. Mas há ingredientes no interior do processo que devem ser observados, sob pena de, em pouco mais de 150 anos desde que se fundaram aqui as primeiras comunidades protestantes de missão, chegarmos ao topo da sociedade e não a termos transformado; pior, de a termos deformado. Onde mais crescemos? Se há mais evangélicos, é preciso verificar onde houve aumento, porque e para quê. Foi apenas na base – as classes C, D, E? Neste caso, o aumento não nos coloca em posição de liderança social, política e intelectual. Continuaremos a desempenhar papel subalterno, sem influir diretamente nas decisões que afetarão os rumos do país. Com quem mais nos parecemos politicamente? Com os setores reacionários, conservadores da antítese “casa grande – senzala”, efeito comum a quem enriqueceu e se estabilizou, ou com os setores progressistas, insatisfeitos com o lugar que lhes foi reservado pelos “pais” da nação? A resposta a este quesito é fundamental para que seja avaliado se amadurecemos para acumular ou para repartir; se negamos nossa origem e abjuramos nosso mandato ou, ao contrário, se confirmamos que nossa caminhada até o topo se inicia na manjedoura. Brasil mais evangélico Um país em cuja população há quase um evangélico para cada quatro habitantes tem o seu perfil cultural alterado pelos valores evangélicos. Para as próximas décadas, há muitas perguntas aguardando resposta. Pode-se esperar mais respeito entre as pessoas? Mais amor entre diferentes? As estatísticas refletirão mais tolerância? Diálogo ao invés de altercações? Haverá mais perdão? Se a população evangélica, cujas fontes são o Evangelho de Jesus Cristo, o legado bíblico e respeitáveis tradições da civilização protestante, como ficará o respeito à mulher? Como serão tratados idosos e crianças? Que lugar ocuparão na agenda política os direitos de trabalhadores? Que estatuto regerá o tratamento às pessoas especiais e aos mais pobres? Haverá mais inclusão pela educação, os cidadãos terão mais responsabilidade na conduta civil ou continuarão infantilizados pelo paternalismo político, pródigo em bolsas e econômico em cultura e cidadania? Valores cristãos País evoluído há de querer redefinição de papéis e responsabilidades. Os valores evangélicos que se supõe acompanharem a nova palavra de ordem apontam, entre outros, para a família brasileira, que há muito espera por mais saúde, justiça, educação, habitação, acesso aos avanços sociais, econômicos e culturais de um país desenvolvido. Se os evangélicos influem na política, espera-se mais transparência nas finanças e na administração de políticas públicas. Os valores de uma sociedade também afetam os códigos legais. Como ficará o casamento monogâmico entre pessoas de sexos opostos? Haverá lugar a decisões judiciais impermeáveis a esses valores, com castas de juízes reinterpretando a própria constituição? É de se esperar que, com mais evangélicos na sociedade, seja outra a densidade ética dominante. E, no âmbito religioso – templos, confissões e instituições ligadas à fé –, as condutas morais e o saber teológico revelem maior compromisso com a Bíblia e menos do falacioso marketing de empreendimentos religiosos. Afinal, com a consciência afinada com a expectativa do Reino de Deus entre nós, havemos de superar, de um lado, os supermercados da religião barateadora das dádivas espirituais e, do outro, a sedução da teocracia oferecida pelos “aiatolás” do messianismo fanático travestido de líderes evangélicos.