quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Acumulação

Há pessoas doentes da alma, que vivem para acumular. Os acumuladores juntam coisas e até animais, como demonstra um documentário do Canal Discovery, na TV a cabo. São pessoas que sofrem de certo transtorno, pelo qual se sentem impelidos a ajuntar objetos, sem poder se desfazer deles. Dão sempre uma desculpa racional para o hábito, que dificilmente reconhecem como doentio. O motivo é sempre sentimental ou econômico. Pessoas de fora não enxergam razões para a acumulação, pois o mecanismo psicológico do acumulador é sempre oculto, instalado na alma humana. Estima-se que haja cerca de três milhões de pessoas, de todas as faixas etárias, com esse transtorno. Esse hábito pode esconder tremendas frustrações e sentimento de vazio emocional, o qual a pessoa acumuladora tenta superar amontoando coisas que lhe dão certa satisfação. O termo ‘acumular’ vem do latim e significa juntar, amontoar, empilhar. A idéia embutida na expressão é a de reunir e conservar uma boa quantidade. A Bíblia diz: “Ai daquele que ajunta... bens mal adquiridos, para por em lugar alto o seu ninho” (Hc 2.6). Aqui, ajuntar está no contexto de saque, pilhagem, roubo. “Não acumuleis... tesouros sobre a terra.... mas ajuntai... tesouros no céu” (Mt. 6.19-20). O evangelista se refere ao contraste entre manter valores e projetos aplicáveis apenas à vida terrena e transitória e formar um patrimônio de valores espirituais, rendendo para além, na eternidade. “... Segundo a tua dureza e coração impenitente acumulas ira para o dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus” (Rm. 2.5). Paulo censura o fingimento de alguns que queriam parecer bons apenas para julgar e condenar outras pessoas, estando eles mesmos em pecado. “O vosso ouro e a vossa prata foram gastos de ferrugem... há de ser por testemunho contra vós mesmos... tesouros acumulastes nos últimos dias” (Tg 5.3). O contexto mostra que o autor critica gente gananciosa, que enriquece com a miséria de outros. Na Bíblia, a acumulação é freqüentemente tratada como um distúrbio social, entre pessoas. É um pecado que marca os relacionamentos, gera abusos e deixa gente machucada. Não é apenas o transtorno de ajuntar coisas inúteis, mas principalmente um modo de oprimir pessoas e estragar o convívio. Jesus nos ensina a repartir o que temos. Ele quer que multipliquemos para todos, como ensinou o Mestre no milagre dos pães e dos peixes (Mc 6.30-44).