quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Os Eduardos

Eduardo Sabóia, o diplomata brasileiro que providenciou a saída do senador boliviano da embaixada brasileira em La Paz, ao mesmo tempo em que cumpria um gesto humanitário, afrontou com isto os governos brasileiro e boliviano, protagonistas de uma mal combinada retenção em instalações que deveriam servir apenas aos procedimentos diplomáticos, não a prestar-se ao papel de cárcere. A fuga de Roger Pinto Molina, asilado, até o dia 25/08, por cerca de um ano na embaixada, apenas deu início ao suplício do diplomata brasileiro. Embora não lhe haja faltado a coragem de tomar a decisão protelada por autoridades dos dois governos, Sabóia já enfrenta a fúria da presidente Dilma. No imbróglio, caiu o ministro da Relações Exteriores, demitido pela chefe do Executivo. Antônio Patriota já foi substituído pelo embaixador do Brasil na ONU, Luiz Alberto Figueiredo. Pelo tom usado por Dilma em declarações recentes, rechaçando comparações entre a embaixada e a detenção no Doi-Codi, feitas por Sabóia a propósito da permanência do senador Molina na representação diplomática do Brasil na Bolívia, não há dúvidas de que a sindicância a que Eduardo Sabóia será submetido não passa de mera formalidade no afastamento inevitável do diplomata. O futuro de Sabóia na diplomacia é incerto, mas sua empulhação, por driblar o visível "corpo mole" dos governos de ambos os países, é quase certa. Sobretudo por causa das relações cordiais entre as personalidades políticas dos dois lados da fronteira.
Curiosamente, outro Eduardo - o ex-analista de inteligência da CIA e NSA, Edward Snowden - é considerado um criminoso pelo governo dos EUA por ter passado informações sigilosas sobre a espionagem norte-americana em países aliados. Herói da humanidade, para uns, e traidor, para o governo de Barak Obama, Snowden se refugiou na Rússia em meio a um escândalo diplomático. Embora sejam defecções que guardam diferenças essenciais, ambas têm consequências diplomáticas escandalosas. Nos dois casos, o pivô é um Eduardo, cujo significado do nome é "guardião de um tesouro". Coincidentemente, indica a posição dos Eduardos - o brasileiro e o norte-americano - na guarda de algo (ou alguém) enormemente valioso para as relações entre países. Mas, se para Snowden, a entrega dos relatórios obtidos por meio de invasão do sigilo de pessoas, empresas e governos além das fronteiras dos EUA (supostamente por razões de justiça) pode esconder eventual intenção de se auferir alguma vantagem, no caso de Sabóia, o resgate de uma pessoa clinicamente avaliada como desenvolvendo depressão e intenção suicida, parece indicar um arroubo de misericórdia e compaixão.