segunda-feira, 27 de maio de 2013

Em dezembro de 2012, ao receber o título de Membro Correspondente da Academia Evangélica de Letras do Brasil (Aelb), na sede da academia no Edifício da Bíblia (SBB, Centro do Rio de Janeiro), tive a alegria de ter, como madrinha de meu ingresso àquela casa, minha esposa, a Profª Else Amelia de Moraes Vergara, cujo beijo selou um momento de muita alegria. <>< <>< <>< <>< <>< <>< <>< <>< <>< <>< <>< <>< <>< (fotos de Giuliana Azevedo, Jornal Nosso Tempo) Na primeira foto, aparecem ao fundo, além de alguns dos demais diplomados, o presidente da Aelb, Rev. Guilhermino Cunha, e o jornalista Carlos Bianchinni. Ao lado da esposa e com o diploma em mãos, a marca de uma vocação para as Letras. E conosco, prestigiando o momento singular do casal, a amiga fraterna Heloísa Marinho.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Coisas das quais a nossa história pouco (ou quase nada) conta

Nossa história tem personagens curiosos, mas por alguma razão parece querer ignorá-los. É importante conhecê-los e resgatá-los. --- Dom Obá II d'África --- Cândido da Fonseca Galvão, também conhecido como Obá II D´África, nasceu em Lençóis, BA, em 1845 e morreu no Rio de Janeiro em 1890. Foi um militar brasileiro com atuação na Guerra do Paraguai (1864-1870). Era filho de africanos forros e neto do rei Abiodun, do Império de Oyo. E era também conhecido por Dom Obá II D´África, ou simplesmente Dom Obá. Alistou-se voluntariamente para lutar na Guerra do Paraguai e, devido à sua grande bravura, foi condecorado como oficial honorário do Exército Brasileiro. Depois da guerra, fixou-se no Rio de Janeiro, virando uma figura folclórica e um tanto o quanto caricata da sociedade carioca, sendo até reverenciado como um príncipe real por vários afro-brasileiros. Dom Obá II foi amigo pessoal do imperador Dom Pedro II, tendo o hábito de ir anualmente ao Paço, onde se apresentava como se fosse um governante estrangeiro. Foi defensor da monarquia brasileira, atuou na campanha abolicionista e no combate ao racismo. Uma frase sua sobre o corpo de "zuavos" baianos, em que Cândido teve participação durante a Guerra do Paraguai, foi registrada em uma monografia acadêmica (ver em http://www.palmares.gov.br/wp-content/uploads/2010/11/OS-ZUAVOS-BAIANOS.pdf): "Fui arrojando os meus denodos de bravura não com interesse do leproso ouro causador de todas as desgraças aos infelizes que pelos maus princípios são aconselhados (...), mas sim como esteve sempre em minha mente, que quando voltasse destes campos de batalha queria ver o meu monarca coberto de glória, e tapizando os troféus do tirano que audazmente nos tirou a luva". Com a queda do Império do Brazil, em 1889, Obá II foi perseguido pelos republicanos, que cassaram seu posto de alferes. Morreu logo depois, em julho de 1890.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Igreja Metodista se despede de MARION WAY

Foi cremado, dia 14/05, o corpo do missionário Marion Way, após culto de despedida na Igreja metodista da Gamboa. Além do bispo Paulo Lockmann, diversos pastores e pastoras se uniram ao povo da igreja, que foi, por mais de 50 anos, a quem "seu Mário" procurou servir com dedicação.
Resumo biográfico: Marion W. Way, conhecido no Brasil como "seu Mário", nasceu em 29 de dezembro de 1930, na Carolina do Sul, Estados Unidos da América. Filho de família metodista, participou do Movimento Estudantil Universitário Metodista dos Estados Unidos, do qual um dos objetivos era o fim da segregação racial e a construção da justiça e fraternidade entre todas as etnias e povos. Em 1951, formou-se em Pedagogia. Na Igreja, trabalhou em muitos ministérios e tarefas e, também em 1951, soube que a igreja estava procurando jovens que tivessem experiência no trabalho com juventude para serem enviados a trabalhar em várias partes da África. Sentindo o chamado de Deus na sua vida, Marion foi enviado pela Igreja para trabalhar em Angola, então uma colônia portuguesa na parte sul do continente africano. Sua tarefa era basicamente organizar sociedades de jovens, promovendo acampamentos, congressos, treinamentos e ajudando as igrejas locais a formarem grupos da juventude. Participava regularmente de equipes de pastores, professores e enfermeiras que visitavam as aldeias. Serviu à Igreja Metodista de Angola (fruto missionário da Igreja Metodista dos Estados Unidos) até 1955, quando retornou aos EUA para fazer seu mestrado em Serviço Social e candidatar-se a ter um ministério permanente como missionário. Foi nessa época que conheceu Anita Betts, pois ambos estudaram na mesma escola para missionários. Anita e Mário casaram-se em 1957, em Porto Alegre, no Brasil, e passaram a lua de mel no Rio de Janeiro. Na ocasião, visitaram o Instituto Central do Povo (ICP) e o Acampamento Clay. - "Foi amor à primeira vista", dizia ele em relação ao ICP e ao Brasil. - "Se não houvesse o compromisso com Angola, gostaria de trabalhar aqui", também disse Mário. Mas compromisso é compromisso e assim, em 1958, o casal foi para Angola, onde Mário servira como missionário, para trabalhar no Centro Comunitário, em Luanda. Desenvolveram lá um trabalho sobretudo na área de educação e música. Começava a efervescência do movimento de emancipação nacional em Angola. As igrejas evangélicas, em especial a Igreja Metodista, eram acusadas de "instigar" os angolanos a trabalhar pela independência. Muitos pastores e líderes leigos foram presos ou mortos e outros tiveram de fugir para o Zaire. Em 1961, Mário foi preso, com um grupo de missionários, acusado de "conspirar" e "trabalhar abertamente" a favor da "causa" da independência de Angola. Ficou preso por duas semanas numa prisão especial para "presos políticos", até ser transferido para Portugal, onde, após 3 meses de prisão, e sem uma acusação formal, foi posto em liberdade e expulso do país. Mário conta que a expulsão foi um "privilégio" para ele, por causa de sua nacionalidade norte-americana, pois a maioria dos presos era torturada e assassinada por grupos de extermínio ou da repressão pró-governo de Portugal. Conforme Marion e Anita, a independência de Angola era a bandeira do povo angolano, particularmente do povo evangélico, que, diferentemente da Igreja Católica, não tinha qualquer aliança com o governo colonialista. A maioria da liderança do movimento de independência tinha sido educada em escolas evangélicas. Houve uma repressão muito dura contra os evangélicos em 1961. Na prisão, Mário conversava com os outros missionários presos. Todos temiam que, com a prisão e morte da liderança, o povo evangélico não agüentasse tanta repressão e que a Igreja fosse dispersa, mas graças a Deus, isso não aconteceu. - "Os jovens metodistas usavam aquele distintivo da cruz de malta. Seria muito fácil eles tirarem aquele símbolo para não serem reconhecidos, mas eles faziam questão de usá-lo. Muitos deles 'desapareceram', outros foram mortos", diz Anita. Anita estava grávida quando Mário foi preso. - "A casa já tinha sido apedrejada. Muitas pessoas se refugiavam em nossa casa, fugindo do país e muita gente trazia carta e material que eles queriam que nós entregássemos aos missionários que estavam saindo. Até o dia em que a polícia veio, revistaram a casa e disse pro Mário em inglês: ‘Este é o seu dia!’ Nós tínhamos uma porção daquelas cartas e eu tive de escondê-las na roupa. Eles levaram o Mário nesse dia, depois passaram noutro lugar e prenderam mais três missionários" , conta Anita. "Apesar de sermos todos evangélicos e metodistas, havia, desde que chegamos uma nítida distância entre os irmãos angolanos e nós missionários. A luta era deles, negros angolanos, e nós, missionários, lembrávamos o branco europeu invasor e colonizador, mas naquele mesmo dia em que o Mário foi preso, aquela barreira Deus derrubou por terra. Recebemos uma inesperada visita de um grupo de mulheres, que vieram com o intuito de solidariedade e consolo. Era como se elas dissessem: 'agora sabemos que vocês estão do nosso lado e vocês sabem o que nós sofremos!' A casa foi apedrejada novamente naquele momento, mas não havia medo, somente fé e solidariedade. Estabeleceu-se um vínculo de cumplicidade”, continuou Anita. - “Ficamos sabendo do terrorismo da repressão. Tínhamos, por exemplo, um pastor amigo nosso que, num domingo de manhã, enquanto pregava, sua igreja foi invadida por um grupo de fazendeiros e arrancaram ele do púlpito e ali, defronte da igreja, bateram tanto nele, que ele veio a falecer. Os cristãos metodistas oravam para que pudessem ser fiéis a Deus a ponto de amar a quem torturava, matava e os tratavam tão mal. Tinham a preocupação de serem fiéis ao Evangelho, também durante este período difícil de perseguição. É por isso que eu não aceito e até me revolto com essa tal teologia da prosperidade, que apregoa que é só ter fé, que Deus vai tornar-nos ricos. Então me vem à mente a vida de tantos irmãos e irmãs que tiveram tamanha fé e sofreram prisões, tortura e até mesmo a morte", lembrava Mário. Falando sobre barreiras raciais, Mário testemunhou: - "Trabalhar em Angola foi uma grande mudança em minha vida. Eu era adolescente na igreja dos brancos, que não se misturava com a Igreja dos negros. Creio que foi no movimento universitário a primeira vez que convivi, comunguei e partilhei com irmãos e irmãs negros. Aliás, foi esse movimento universitário que colocou a Igreja Metodista como pioneira na luta contra o racismo e que estabeleceu como bandeira a aproximação e integração entre brancos e negros metodistas. Hoje em dia, a Igreja Metodista nos EUA chama-se Igreja Unida, e tem um só governo, uma só estrutura. Estão acontecendo nos últimos anos as primeiras experiências de pastores negros pastorearem as chamadas 'igrejas de brancos' e de pastores brancos pastorearem as chamadas 'igrejas de negros'. Temos bispos negros e bispos brancos". E Anita confirma: - "Não havia diferenças para mim e Mário capazes de nos impedir a comunhão e o amor, de estabelecer racismo e as crianças, graças a Deus, não vêem isso. Era muito lindo ver nossa filha loira brincar com todas aquelas crianças negras. Amamos profundamente nossos irmãos e irmãs angolanos." Como os dois falavam o português, foram enviados em 1962, pela Junta Geral de Missões da Igreja, como missionários à Primeira Região EcIesiástica da Igreja Metodista no Brasil, onde serviam na qualidade de diáconos da igreja ao Instituto Central do Povo (ICP). Anita, em 1984, foi transferida para servir no Instituto Metodista Ana Gonzaga (IMAG), com a responsabilidade pela educação cristã e outros serviços de apoio às crianças internas. Mário, desde 1983, também participava da Assessoria de Projetos da nossa Região. O casal teve três filhos nascidos em países e continentes diferentes. Evelyn nasceu em Angola, África; Steve nasceu nos Estados Unidos e Dine, nasceu no Brasil. Os três netos são nascidos no Brasil. Motivo de tristeza era ouvir alguém dizer que os missionários metodistas americanos que trabalharam na década de 1960 no Brasil estavam a serviço da CIA (central de espionagem americana) e trabalhando pelo golpe de 1964. Mário afirma que "como parte do contrato da Junta Geral de Missões, é estipulado que os missionários metodistas americanos não tivessem nenhum contato com a CIA ou outro órgão similar. Dos missionários metodistas americanos que conheci nesses anos todos, tanto aqui como em Angola, não sei de nenhum que prestou esse papel. Pelo contrário, nós nos opomos a esse tipo de coisa. Pode ser que isso tenha acontecido com outros missionários, inclusive americanos, mas não com os metodistas. Mas eu pessoalmente nunca conheci e nem soube de nenhum. Pelo contrário, tivemos um dos nossos missionários aqui no Brasil expulso pelo governo militar por ser considerado subversivo, após publicar alguns artigos sobre a brutalidade dos militares e das prisões de estudantes, por exemplo". Sobre este mesmo tema, Anita conta que, em abril de 1965, recebeu uma carta de uma tia dos EUA em que, num parágrafo, ela queria saber notícias da família Way, porque estava preocupada por ouvir muitas notícias sobre o que andava acontecendo no Brasil. Já num outro parágrafo, ela comenta que estava muito contente porque o bispo Dossey estava nos EUA e fazendo tanto pela Causa. - "Só isso que ela falou. Aí, quando eu vi isso - que engraçado! - já fazia tanto tempo que o bispo Dossey já tinha ido, por que ela estava escrevendo isso agora? Foi então que reparei que a carta havia sido escrita em abril de 1964 e ela havia sido aberta pela censura, eles ficaram com nossa carta durante um ano!" Em julho de 1997, Marion e Anita aposentaram-se e, apesar de duas filhas estarem residindo nos EUA, preferiram continuar vivendo no Brasil. - "Aqui estão os amigos; uma boa parte da vida!", contam. Adaptado de www.metodistavilaisabel.org.br