sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Hino ao futuro

No canto do olho escorre uma lágrima quando a menina encontra, como nunca, o verdadeiro valor na frase do hino, muitas vezes cantado mas jamais sentido: "Em teu seio, ó liberdade, desafia o nosso peito a própria morte!". Mas pela primeira vez essa lágrima une alegria e orgulho.

Atenta, assiste às incursões da lei no caos da marginália e, embora soubesse que existiria em alguma parte, percebe que o lema "Ordem e Progresso" da bandeira auriverde finalmente se tornam realidade diante de si. Arrebenta enfim a esperança de uma vida melhor.

Vendo a trôpega fuga da corja meliante, é capaz de sentir orgulho de sua própria gente, que trajando chinelo e bermuda ou a camuflagem rajada dos uniformes guarnecidos por fuzis arrojados, a boina preta da tropa de elite ou o colete negro dos investigadores, é a mesma brava gente brasileira pondo em fuga os seus algozes.

Ao despontar a esperança, começa n'alma a convicção de sua própria identidade. Por isso, murmura celebrando o futuro de sua gente: "Verás que um filho teu não foge à luta".

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Universidade Mackenzie ousou contrariar

Uma verdade incômoda que deve ser dita, mesmo atraindo a fúria de desconstrutivistas.

"Manifesto Presbiteriano sobre a Lei da Homofobia


O Salmo 1, juntamente com outras passagens da Bíblia, mostra que a ética da tradição judaico-cristã distingue entre comportamentos aceitáveis e não aceitáveis para o cristão. A nossa cultura está mais e mais permeada pelo relativismo moral e cada vez mais distante de referenciais que mostram o certo e o errado. Todavia, os cristãos se guiam pelos referenciais morais da Bíblia e não pelas mudanças de valores que ocorrem em todas as culturas.

Uma das questões que tem chamado a atenção do povo brasileiro é o projeto de lei em tramitação na Câmara que pretende tornar crime manifestações contrárias à homossexualidade. A Igreja Presbiteriana do Brasil, a Associada Vitalícia do Mackenzie, pronunciou-se recentemente sobre esse assunto. O pronunciamento afirma por um lado o respeito devido a todas as pessoas, independentemente de suas escolhas sexuais; por outro, afirma o direito da livre expressão, garantido pela Constituição, direito esse que será tolhido caso a chamada lei da homofobia seja aprovada.

A Universidade Presbiteriana Mackenzie, sendo de natureza confessional, cristã e reformada, guia-se em sua ética pelos valores presbiterianos. O manifesto presbiteriano sobre a homofobia, reproduzido abaixo, serve de orientação à comunidade acadêmica, quanto ao que pensa a Associada Vitalícia sobre esse assunto:

"Quanto à chamada LEI DA HOMOFOBIA, que parte do princípio que toda manifestação contrária ao homossexualismo é homofóbica, e que caracteriza como crime todas essas manifestações, a Igreja Presbiteriana do Brasil repudia a caracterização da expressão do ensino bíblico sobre o homossexualismo como sendo homofobia, ao mesmo tempo em que repudia qualquer forma de violência contra o ser humano criado à imagem de Deus, o que inclui homossexuais e quaisquer outros cidadãos.

Visto que: (1) a promulgação da nossa Carta Magna em 1988 já previa direitos e garantias individuais para todos os cidadãos brasileiros; (2) as medidas legais que surgiram visando beneficiar homossexuais, como o reconhecimento da sua união estável, a adoção por homossexuais, o direito patrimonial e a previsão de benefícios por parte do INSS foram tomadas buscando resolver casos concretos sem, contudo, observar o interesse público, o bem comum e a legislação pátria vigente; (3) a liberdade religiosa assegura a todo cidadão brasileiro a exposição de sua fé sem a interferência do Estado, sendo a este vedada a interferência nas formas de culto, na subvenção de quaisquer cultos e ainda na própria opção pela inexistência de fé e culto; (4) a liberdade de expressão, como direito individual e coletivo, corrobora com a mãe das liberdades, a liberdade de consciência, mantendo o Estado eqüidistante das manifestações cúlticas em todas as culturas e expressões religiosas do nosso País; (5) as Escrituras Sagradas, sobre as quais a Igreja Presbiteriana do Brasil firma suas crenças e práticas, ensinam que Deus criou a humanidade com uma diferenciação sexual (homem e mulher) e com propósitos heterossexuais específicos que envolvem o casamento, a unidade sexual e a procriação; e que Jesus Cristo ratificou esse entendimento ao dizer, "desde o princípio da criação, Deus os fez homem e mulher" (Marcos 10.6); e que os apóstolos de Cristo entendiam que a prática homossexual era pecaminosa e contrária aos planos originais de Deus (Romanos 1.24-27; 1Coríntios 6:9-11).

A Igreja Presbiteriana do Brasil MANIFESTA-SE contra a aprovação da chamada lei da homofobia, por entender que ensinar e pregar contra a prática do homossexualismo não é homofobia, por entender que uma lei dessa natureza maximiza direitos a um determinado grupo de cidadãos, ao mesmo tempo em que minimiza, atrofia e falece direitos e princípios já determinados principalmente pela Carta Magna e pela Declaração Universal de Direitos Humanos; e por entender que tal lei interfere diretamente na liberdade e na missão das igrejas de todas orientações de falarem, pregarem e ensinarem sobre a conduta e o comportamento ético de todos, inclusive dos homossexuais.

Portanto, a Igreja Presbiteriana do Brasil reafirma seu direito de expressar-se, em público e em privado, sobre todo e qualquer comportamento humano, no cumprimento de sua missão de anunciar o Evangelho, conclamando a todos ao arrependimento e à fé em Jesus Cristo".


Rev. Dr. Augustus Nicodemus Gomes Lopes
Chanceler da Universidade Presbiteriana Mackenzie"

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Pertenço ao Senhor!

(por mim mesmo)

Na vida ou na morte,
Saúde ou enfermidade,
Rico ou pobre esteja.
Em todo e qualquer momento,
Pertenço ao Senhor!

Chova ou faça sol,
Se a política anda bem,
Se a canalha assalta o trono,
Na cidade ou no campo,
Pertenço ao Senhor!

No templo, na praça,
Alameda ou beco estreito,
Sem eira nem beira,
Com ricos de escol,
Pertenço ao Senhor!

Cantando, calando,
On line ou off line,
Jesus me ama, eu sei.
Por isso digo:
Pertenço ao Senhor!

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Visitando missionários em Goiás




No sábado, 30 de outubro, saímos bem cedo de Brasília em direção a Alto Paraíso de Goiás, na companhia dos missionários Manuel Alexandre Pereira Lima e Rosângela Tavares da Silva Lima. Iniciamos a jornada através do cerrado passando pela cidade-satélite de Sobradinho (DF), depois por Planaltina, Formosa e Itiquira, no Estado de Goiás, pelas BR 010 e GO-118 conjugadas, na direção Norte através de São Gabriel e São João da Aliança (GO).

Na mente, a expectativa de encontros que pretendíamos fazer na cidade. Com que tipo de recepção poderíamos contar? Haveria um choque cultural? Haveria abismos entre nós e o povo do lugar? Como reagiriam à mensagem? Os mais diversos pensamentos queriam definir a palavra a ser dita ao coração dos paraisenses.
Obras no caminho, duplicação e desvios na rodovia. A paisagem rural se alternando com o cerrado nativo e os eucaliptais sobre os platôs e as ravinas das chapadas. Nas depressões do relevo, veredas de buritizais resistem ao avanço do agronegócio nos últimos oásis que ainda é possível entre a terra sulcada de plantações de soja, tomate e laranja.
Quando as construções tradicionais da cultura cabocla dão lugar aos ícones do misticismo esotérico sabemos ter chegado a Alto Paraíso, um enclave de sete mil pessoas aproximadamente sobre as campinas entre as chapadas.

Passados os arcos que assinalam a entrada da cidade, chegamos à rua principal. Ali está a livraria Guerreiros da Luz, com seu aspecto de castelo medieval por for a e, dentro, muitos livros: Bíblias, devocionais, testemunhos, estudos bíblicos, manufaturados decorativos e encadernações à base de fibra de imbira. A muralha confronta Avalon, uma organização comercial inspirado na cultura mágica com artigos para abastecer esotéricos chegados à bruxaria.

A cordialidade da vizinhança disfarça uma guerra surda entre os princípios da fé bíblica dos cristãos evangélicos e as muitas correntes espiritualistas que se refugiam na cidade que, segundo crêem, será preservada como um dos centros da Nova Era.

Alto Paraíso é um pólo que reúne hippies, dreads, rastafaris, gurus e outras vertentes alternativas. Mas as igrejas evangélicas pululam onde antes se arrastava uma presença tradicional católico-romana. No entanto, os missionários metodistas obtém mais comunhão com missões independentes do que com igrejas estabelecidas.


Na chegada, vamos direto à feira semanal que se reúne em um galpão da prefeitura. É importante encontrar as pessoas antes das 11 horas, pois só tornarão a se reunir na semana seguinte e enquanto fazem seus pequenos negócios de subsistência ficam mais receptivas.

Somos observados com discrição por jovens barbudos e de cabelos longos, mocinhas que lembram ciganas e mais velhos, que exibem traços da cultura alternativa nas roupas e na conduta. São simpáticos e afáveis. Todos conversam ou examinam as mercadorias. Crianças circulam entre os adultos e as bancas. Do fundo do galpão semicoberto um ritmo de capoeira sai de instrumentos e das palmas que acompanham a jinga de jovens lutadores. Turistas brasileiros e europeus vêm buscar alternativas de estilo de vida enquanto compram artesanato ou comidas rusticamente preparadas.


Entre os cumprimentos e compras, os missionários da Igreja Metodista de Vila Isabel convidam a todos a assistirem, de tarde, à inauguração de sua nova casa, bem nos fundos da livraria que empresta livros para serem devolvidos depois. Mais que um negócio, os livros são parte de uma estratégia de aproximação e conscientização.

Vamos à casa de Juliana, uma jovem artesã dread, com dois filhos: Davi Vidá e Glória Raiz, esta de 40 dias. Os casais têm de duas a três crianças, bonitas e saudáveis, criadas de modo alternativo. Alguns deles se converteram a Jesus e aos poucos deixam de usar maconha. São simpáticos e acolhedores, assim como os rastafaris. Neste sábado, a maioria dos homens tem de ir a Brasília gravar umas músicas durante um evento musical. Por isso, ao cair da noite apenas mães e filhos vêm à inauguração.

A reunião começa atrasada. O senso de horário é frouxo e as distâncias percorridas a pé são longas. Os lugares vão sendo ocupados e as crianças mostram que necessitam de atenção especial. Único pastor presente, coloco-me em uma posição que me permita ver o máximo de todos. Else Amelia, minha esposa, começa a tocar em um teclado músicas que conhecemos e as mulheres têm uma proposta `dread` de tocar os mesmos hinos em ritmo `reggae`. O resultado não é ruim, mas as crianças só irão participar quando a tecladista cantar coisas específicas para elas ou contar-lhes histórias da Bíblia e cantar-lhes canções interativas.

Após as canções, a oração e a meditação bíblica aproximam ainda mais os presentes: nove adultos e oito crianças, em uma sala de tamanho médio. A mensagem se baseia na Carta aos Efésios, de Paulo, capítulos 1 e 2: desafios espirituais e vida cristã madura.

Aproxima-se a inauguração da casa recém construída pelo casal com a condução da obra feita por Alessandro Morais, um jovem cearense radicado em Alto Paraíso e que tem sido discipulado pelo casal missionário. Todos se sentem muito à vontade na missão metodista e gostam de passar tempo juntos.

A casa está cercada de barro vermelho e falta muita coisa até estar concluída. Mas a inauguração antecipa o uso do espaço e atrai quem já estava presente e outros que acabam de chegar: missionários de agências independentes, todos especializados em atuar na cultura alternativa, jovens com formação superior e experiência missionária em outras regiões. O número chega a umas trinta pessoas, contando as crianças.

Concluído o encontro, as pessoas voltam para casa, No domingo é dia de eleição e também vamos conhecer um pouco mais da região. Por isso, precisamos descansar.

Chega o domingo e vamos ver algumas pessoas e lugares. Há providências a tomar no “forte” da missão e de lá vamos aos poços da Loquinha, área preservada de cerrado com abundância de água cristalina, locais onde há artesanato e beneficiamento de frutas. Um tucano de bico amarelo meio alaranjado e ponta preta vem nos ver passar pela estrada de terra e posa para as lentes.

As pessoas que encontramos são tratadas amavelmente pelos missionários de Vila Isabel no sertão goiano. Vão assim se criando vínculos de amizade e as pessoas do lugar se sentem acolhidas pelo casal. Ficamos um tempo para conhecer as características sociais e a inclinação mística dos paraisenses, metade deles imigrada de outras partes, mas que fazem boa parte da riqueza local, combinando a produção de cereais e o turismo alternativo.

Vivendo de modo peculiar, relativamente afastado da agitação das cidades grandes, a a população de Alto Paraíso está em meio a uma acirrada disputa entre grupos religiosos e mexe com interesses internacionais. Há muitos estrangeiros explorando as riquezas locais e fazendo negócios lucrativos, seja no turismo, seja instalando organizações filantrópicas, seja trazendo filosofias místicas para sincretizar com as crenças nativas.

Com a aproximação de 2012, ano que supostamente marcará a era de degêlo dos pólos e a elevação do nível dos oceanos, os cristãos se preparam para uma enxurrada de visitantes na cidade. Entre eles, metodistas tentam com poucos recursos alcançar o coração e a mente das pessoas, mas precisam de oração, contato, apoio material e cooperação voluntária. A Igreja de Vila Isabel já deu um passo ao enviar o casal Alexandre e Rosângela. Quem mais estará disponível para atuar nesse cenário e se engajar nessa batalha?