Nunca fui imperador, nem há indícios de que num "pujillo" de terra descansarei "sem tardança". Mas a afinidade que tenho com o soneto "Terra do Brazil", de Pedro II, escrito durante seu exílio na Europa, vem de certas experiências amargas - que, claro, todos já tivemos - com alguém de quem não esperávamos receber senão respeito e consideração.
O soneto de Pedro II é cheio de saudades e nacionalismo melancólico, ressentimento explicável pela desfeita do expatriamento, após meio século de dedicação aos assuntos públicos, mas é a confissão final do soneto que cativa minha simpatia: "sereno, aguardarei... a justiça de Deus na voz da história". É uma profissão de fé na fidelidade divina que, a despeito de épocas e indivíduos, sempre fará a justiça triunfar.
TERRA DO BRAZIL
Espavorida agita-se a criança,
De nocturnos phantasmas com receio,
Mas se abrigo lhe dá materno seio,
Fecha os doridos olhos e descança.
Perdida é para mim toda a esperança
De volver ao Brasil; de lá me veio
Um pugillo de terra; e nesta creio,
Brando será meu somno sem tardança...
Qual o infante a dormir em peito amigo
Tristes sombras varrendo da memoria,
Oh doce Patria, sonharei contigo!
E, entre visões de paz, de luz, de gloria,
Sereno aguardei no meu jazigo
A justiça de Deus na voz da Historia!
D. Pedro D'Alcantara.