quinta-feira, 22 de maio de 2014

Sobre cotas raciais para empregos públicos

Apoiei as cotas raciais no início, para "zerar" um deficit histórico e para existirem apenas por um determinado tempo e depois desaparecerem. Mas o tema virou modismo apoiado no "politicamente correto". Hoje, considero-as uma excrecência social, uma espécie de esmola da sociedade via governo populista a um contingente de brasileiros e brasileiras que já mostrou que não precisa dela para se impor na sociedade. Exemplo disto, nenhum avanço significativo na área se compara à Lei Áurea (que foi limitada em prever os desdobramentos, mas foi universal). A não ser que alguns cidadãos negros queiram ser incluídos em outra categoria de cidadania (como os indígenas, considerados inimputáveis pela sociedade "branca", o que é outra excrecência, que gera semi-cidadãos, que não votam nem são votados a não ser que abram mão da inimputabilidade pela aculturação). Convenci-me de que aprovar cotas para o serviço público equivale a admitir um nicho de privilégiados pela cor da pele (declarada, entenda-se bem) ou, no mínimo, uma categoria à parte dos demais cidadãos. As cotas do "politicamente correto" não unem os brasileiros; elas afastam, criam abismo, aumentam a separação social e, em vez de cicatrizar a ferida história da escravidão, abrem-lhe chagas purulentas do rancor étnico-social e da ausência do perdão. Sou favorável a um grande pacto em torno da questão étnica, com a exposição das responsabilidades históricas das partes envolvidas, algo ainda maior e melhor do que a Comissão da Verdade (outro casuísmo revanchista unilateral, que apura as culpas de um pólo e isenta o outro, igualmente virulento e sanguinário do período de exceção 1964-1985) e que aponte medidas concretas de superação e cooperação em prol da justiça e da harmonia sociais.