Eu sei
Luciano P. Vergara
Eu sei, meu Deus, as coisas que fiz.
Digo que sei porque tenho consciência
De meus atos, pensamentos e sentimentos.
E porque tenho consciência,
De tais coisas é que digo que eu sei.
A consciência que tenho não é só das coisas
Que sei que fiz e que faço;
É de muito mais.
Também muito sei do que outros fazem.
Mas o que digo a ti se refere apenas
Às coisas que fiz e que faço.
Porque só elas importam aqui.
Do que outros fizeram e fazem,
Só eles devem falar, não eu.
Meu Deus, de tudo isso que sei,
Eu falo baixinho.
E enquanto eu falo, os olhos marejam.
Embarga-me a voz!
Teus olhos mirando, amorosos, serenos,
A um só tempo firmes, atentos...
... Nada foge à sua argüição.
Teus olhos me varam,
Mas, gentis, comunicam.
Insistem na paz.
Eu sei, não posso esquecer
Que, ’inda à beira da morte, no azar ou na sorte,
A alma, ansiosa, suspira e pede perdão.
Eu fito esses olhos, gentis, caridosos,
Amor repartido, corrige e ensina a não mais pecar.
Eu sei, meu Deus, eu pequei
Por atos, palavras, a fazer ou fugindo de fazer.
Eu sei, tenho culpa e a culpa que tenho
Tu a queres levar sobre os ombros de Cristo,
Na cruz de Jesus, enquanto esses olhos
Ainda me inspiram – até me assustam! –
E enquanto vasculham, também consolam todo o meu ser.