sexta-feira, 21 de novembro de 2008

40 anos na favela




Em uma entrevista publicada no dia 30 de outubro, o líder comunitário, pastor e psicólogo Macéias Nunes conversou com Lenildo Medeiros, da Agência Soma. Entre as perguntas, o jornalista quis saber qual deve ser o papel da igreja no complicado contexto da favela. Macéias completou 40 anos atuando em favelas, na maior parte desse tempo fazendo trabalho pastoral.
Confira abaixo a resposta do pastor Macéias.

"Antes de tudo, pregar a palavra. O poeta Drummond dizia que lutar com a palavra é a luta mais vã, mas lutar com a Palavra de Deus é garantia de eficácia na transformação de vidas. Tenho visto muitas conversões de bandidos, pais de santo, prostitutas e, num milagre ainda maior, de pessoas bem postas na sociedade, bons cidadãos, cumpridores de seus deveres, mas que são tão pecadores – ou até mais – quanto os marginalizados da vida. Pregar a palavra, sim, mas entender que é preciso salvar a vida, além da alma. Nesse sentido, ação social é fundamental. Fico perplexo ao ver igrejas grandes, em favelas também grandes, igrejas estas sem um mísero curso de alfabetização ou coisa parecida. Pela graça de Deus, na Igreja Batista do Leme (pastoreada por Macéias Nunes há cerca de uma década e meia), sem contarmos com recursos financeiros, Deus tem nos ajudado a manter uma forte estrutura de ação social, com um grande número de projetos. Pessoas de outras regiões têm vindo até nós para aprender sobre o tema. Igreja de favela sem projeto de ação social é um contra-senso. Só o Cheque-Cidadão, que muitos criticaram como assistencialista, distribuímos durante sete anos. Mantemos há 11 anos uma creche comunitária. Temos curso de informática, de reciclagem e artesanato, bazar comunitário e cursos supletivos de primeiro e segundo graus. Não temos dinheiro, apenas visão. Os recursos, Deus envia. Ele é fiel.