sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Algumas notas


As notas jornalísticas abaixo foram pinçadas do material encaminhado por mim para publicação na Revista Soma, seção Conexão América Latina (1º semestre de 2008). Por diversos motivos, a revista não chegou a circular.



Modelos

Há quase meio século, dois negros se tornaram figuras globais: o norte-americano Martin Luther King Junior (1929 - 1968) e o ganense Kwame Nkrumah (1909 - 1972). De vida mais curta, Luther King tornou-se emblema étnico e cívico nos EUA, personagem cult, com direito a dia de comemoração em sua homenagem. Nkrumah foi um dos líderes pan-africanistas que lutaram pela descolonização do “continente negro”, a luta contra o capitalismo internacional e a implantação do socialismo em escala planetária. Morreu durante um tratamento contra o câncer, na Romênia comunista, ao tempo do líder Nicolae Ceauşescu (1918 – 1989).
Essas duas personalidades influenciaram, na década de 1960, jovens latino-americanos não alinhados. Pena que Nkrumah e a luta armada dos independentistas africanos tenham tido mais versões em nosso subcontinente do que King teve entre a juventude evangélica sul-americana.


Martin Luther King Jr. / Kwame Nkrumah

Anões

René PadillaUm doce para quem disser, sem gaguejar, os nomes dos presidentes do México, do Equador e do Paraguai. A fraqueza dos líderes do continente aumenta o potencial autoritário dos caudilhos de plantão.

Depois de ler o teólogo René Padilla, nos damos conta da estatura ‘zero’ do pensamento de boa parte dos caciques evangélicos deste continente. No contexto, como os liderados não são maiores do que seus líderes, comungar a mesma visão não permite verem que o interesse imediato em números é a pior sedução. Daí, ovelhas sem pastor acolhem de bom grado toda forma de pragmatismo: seja evangélico ou bolivariano.

René Padilla



Eu, hein

Só para ver se eu entendi.
Se as Farc passassem a ter status de organizações sérias e democráticas, elas poderiam ser admitidas à mesa de conversações de alto coturno.
Certo.
O ‘xis’ da questão: E os reféns, seriam automaticamente libertos ou continuariam a ser reféns?
Ótimo. Igrejas que pretendem convidar os comandantes guerrilheiros para fazerem palestras e ‘workshops’ sobre temas humanitários façam uma fila bem aqui.


Hegelianos

Latino-americanos estão a um passo de confirmarem ou reformarem Friedrich Hegel (1770 – 1831). Em seu livro Dezoito Brumário, o filósofo alemão classificou de tragédia e farsa os episódios e personagens da história. Para ele, estes teriam sempre duas edições, sendo a primeira, um trágico evento e a segunda, apenas uma imitação limitada pelo paradigma deixado pela primeira.
A sombra hegeliana desliza ao sul do trópico de Câncer, onde o continente americano vive o hiato entre nacionalismos à moda conservadora da “era do rádio” e os seus contra-pontos na suposta vanguarda esquerdista da primeira safra do século 21.
Pensando assim, Juan Domingos Perón, na Argentina, e Getúlio Vargas, no Brasil, teriam sido tragédias hegelianas e os nanicos Lula, Hugo Chávez e Evo Morales, então, seriam a farsa.

Georg Wilhelm Friedrich Hegel