quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Do segundo turno à alternância

Contudo, Nínive tem mais de cento e vinte mil pessoas que não sabem nem distinguir a mão direita da esquerda, além de muitos rebanhos. Não deve­ria eu ter pena dessa grande cidade?

(Jonas 4.11)


Houve um tempo romântico em que, para ocupar-se cadeira de parlamentar, o sujeito tinha de exibir moral ilibada e extensa folha de serviços prestados à sociedade. Também houve um tempo em que era praxe os partidos políticos se alternarem no poder, num revezamento que dava oportunidades iguais às agremiações políticas para apresentar o seu estilo de governança e demonstrar suas virtudes pela indicação de um monarca de barbas grisalhas.

O tempo passou e, contrariando certa tese que diz que as coisas se aperfeiçoam quando o tempo passa, a política brasileira eleva ao degrau mais alto do legislativo nacional gente que tem intimidade com a telinha ou com a bola: Tiririca, Romário, Jean Willys entre outros. E quase acaba diplomando candidatas honoráveis tais quais a ‘Mulher Pera’, a Mulher ‘Melão’ e Tati Quebra Barraco. Se no passado houve barões do café, voto de cabresto, coronéis do cacau, imaginava-se que o século 21 seria bem diferente.

Passamos mais uma eleição sem lideranças expressivas nem nomes de valor inquestionável. Sobraram nulidades, bizarrices e mistificadores de todo tipo. No entanto, dá para aprender algumas lições valiosas.

Lula, por exemplo, pertence a um panteão sagrado e não pode ser abalado por críticas de pessoas mortais. Mesmo assim, sua candidata, Dilma, não encaçapou no primeiro turno.

A ‘verde’ Marina foi providencialmente a peça que desestabilizou o “já ganhou” da candidata vermelha e o povo escolheu o segundo turno como candidato. Enquanto isso, Serra, o ‘tucano’ da campanha fraca, foi abençoado com uma segunda oportunidade, indo para o ‘tudo ou nada’.

Em novembro, a decisão pode confirmar o sucesso do uso da máquina governamental pró Dilma ou, para melhorar a democracia, os brasileiros e brasileiras podem dar preferência à alternância no poder. Esta sim, uma opção menos de aprovação de José Serra e o estilo peessedebista de governar do que o desejo sincero por um arejamento no Planalto.

Votar na alternância não é o mesmo que rejeitar Dilma ou o PT. Muito menos confessar-se apaixonado pelo charme de José Serra, FHC e outros compadres social-democratas. Alternar, neste caso, é dar ao PT a oportunidade, que o imediatismo do poder não lhe permite enxergar, de se reciclar, de retornar mais humilde e amadurecido em 2014.

Se o voto confirmar mais um período petista no Executivo federal, o ‘circo’ que conta em seu elenco com o palhaço Tiririca vai armar sua lona em Brasília e, “ninguém disse, ‘seu’ Zé”, mas digo eu: fará um espetáculo sem graça, com feras fora de controle a devorar os direitos e liberdades individuais do respeitável público, que às vezes não sabe como usar a mão esquerda nem a direita para teclar o botão verde da urna eletrônica porque não sabe que é o povo quem manda no Estado.


LUCIANO P. VERGARA