sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Uma nova mitologia latino-americana



Vivendo e aprendendo. Essa história chilena dá-nos muitas lições.
Destaco que há um paralelo entre a região de Atacama (que mantém algumas correlações com a noção de tártaro, inferno, com terrenos nus, pedregosos, salinos) e certas paisagens da Grécia e ilhas do Egeu, com seus cenários vulcânicos, dos quais a mitologia narra coisas fantásticas que permaneceram como forma para uma vasta explicação da vida e símiles filosóficas que estão espalhadas por todas as áreas do conhecimento.
Sabemos que, em geral, os povos herdeiros de antigas civilizações (gregos, persas, chineses, japoneses etc) tiveram séculos de enfrentamento com as ameaças climáticas e catástrofes naturais, estando na frente de outros povos mais recentes (o Brasil, por exemplo). À exceção, no continente americano, dos herdeiros de antigas civilizações (maias, astecas, incas etc.), que foram subjugadas e dizimadas pelo colonialismo europeu, aqueles primeiros desenvolveram saberes refinados que só puderam ser atingidos exatamente porque lutaram muito pela própria sobrevivência, sendo provados de todos os modos e legando ao mundo histórias narradas, claro que sem cientificismo, mas mitologias que nos encantam e ilustram pelas alegorias com as dificuldades, perdas e ganhos de cada um de nós no dia-a-dia da modernidade.
Curiosamente, na cultura ibero-americana, destacaram-se seis escritores (contadores de histórias) que brotaram justamente das culturas em que há traços remanescentes das antigas civilizações pré-colombianas, com o prêmio Nobel de literatura: Gabriela Mistral (Chile, 1945), Miguel Ángel Asturias (Guatemala, 1967), Pablo Neruda (Chile, 1971), Gabriel García Márquez (Colômbia, 1982), Octavio Paz (México, 1990) e agora, Mario Vargas Llosa (Peru, 2010). O Brasil, a mais forte economia latino-americana, ainda não emplacou um Nobel, embora Josué de Castro, Herbert de Souza (Betinho) e Milton Santos o merecessem.
A saga dos 33 mineiros de Copiapó mobilizou, no mesmo ano em que o país foi arrasado por um grande terremoto, os meios de comunicação do mundo inteiro para contar uma história, que até se pode chamar de milagrosa, de pessoas singelas e carregadas de sua humanidade. Isso deu notícia, vai dar livro e versões para cinema e TV.
Aprendi que, em vez de valorizarmos a terra que não tem terremotos, maremotos nem furacões, devemos mesmo é valorizar o gênio, a sagacidade, a resistência e a resiliência de um povo que acredita que, sim, é possível superar suas desgraças e tem a altivez de não aceitar ser encabrestado por quem quer que seja, venha de dentro ou de fora!
Nosso papel é influir na formação do caráter desse povo jovem com os princípios do Evangelho, da graça, do amor, da solidariedade e ajudar a modelar o perfil da raça brasileira, sem amputá-la de sua coragem, determinação e consciência do papel a desempenhar.
No resto, parabéns aos chilenos. Eles têm sabido superar os modelos autoritários, consolidar sua economia, fortalecer o papel das instituições e descobrir o caminho da ascensão civilizatória no concerto das nações.