Com a lei que promete passar o país a limpo e revelar os porões da ditadura, acredita-se que a memória dos "anos de chumbo" virá à tona e a verdade que está para brotar confirmará anjos e demônios dos 21 anos do regime de exceção.
"Todo país tem o direito de conhecer a sua própria história" é, certamente, uma bonita frase de efeito. Haverá alguém contra tal aspiração? Nem seria preciso responder, mas apenas se as verdades sobre os dois lados antagônicos da sociedade - que muitos supõem serem a sociedade e os militares - puderem ser avaliados com imparcialidade, usando-se pesos iguais.
Revelar os porões do Brasil de 1964 a 1985 pode requerer um instituto de criminalística (um "CSI", como está na moda). Mas é possível que uma parcela interessada dos personagens envolvidos, de ambos os lados, queira ganhar as benesses da história apenas com a claque, assobiando, batendo palmas, com faixas e buzinas. Pra quê investigar, colher impressões digitais, gravar depoimentos e outras provas? Basta o que dizem as "vítimas", entre eles José Genoíno e José Dirceu, dois denunciados por escândalos político-econômicos, de um lado, e dentre os fascistas da ditadura, pelo menos os que sobraram, supostamente pessoas do relacionamento do deputado federal Jair Bolsonaro, no outro extremo. E não esqueçam a própria presidente da República, Dilma Roussef, na ala esquerda, com seus antigos companheiros de armas.
Apesar da Lei da Anistia, hoje com mais de 30 anos, a chegada da onda revisionista parece vir para fazer justiça contra um dos lados e credenciar, pelos livros escolares, as barbas dos novos santos do marxismo latino-americano. Uma investigação autônoma, porém, terá de ser, necessariamente, isenta e equilibrada. Mas quem está preocupado com isto? Importante mesmo é que apenas uma versão da história predomine. E ninguém duvida de qual lado terá sua versão como a única expressão da verdade.