Toda técnica só é válida quando promove o ser humano em conexão com Deus, com o semelhante e com o ecossistema em que vive. Qualquer cultura só tem valor autêntico quando aperfeiçoa as pessoas para estas interagirem assim.
segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014
Uma receita da vovó
O texto a seguir foi criado por autor que não conheço e que supostamente teria sido apresentado na colação de grau de uma turma de Engenharia da PUC, em 2008. Real ou não, é curioso e tem lá a sua lógica. xxxxxxxxx Aula de mestre ou "A goiabada da vovó"
(Prof. Jorge Ferreira da Silva)
O professor da PUC / Rio de Janeiro, Jorge Ferreira, deu uma última
aula para seus ex-alunos, em 16 de dezembro de 2008. Diante de uma
platéia de formandos, acompanhados de seus pais, o professor paraninfo
da turma discursou sobre o Brasil.
Leia o que disse o Prof. Jorge Ferreira.
"Ilustríssimos Colegas da Mesa, Senhor Presidente, meus queridos
alunos, Senhoras e Senhores.
Para mim é um privilégio ter sido escolhido paraninfo desta turma.
Esta é como se fôra a última aula do curso. O último encontro, que já
deixa saudades. Um momento festivo, mas também de reflexão.
Se eu fosse escolhido paraninfo de uma turma de direito, talvez eu
falasse a importância do advogado que defende a justiça e não apenas o
réu. Se eu fosse escolhido paraninfo de uma turma de medicina, talvez
eu falasse da importância do médico que coloca o amor ao próximo acima
dos seus lucros profissionais. Mas, como sou paraninfo de uma turma de
engenheiros, vou falar da importância do engenheiro para o
desenvolvimento do Brasil.
Para começar, vamos falar de bananas e do doce de banana, que eu vou
chamar de bananada especial, inventada (ou projetada) pela nossa
vovozinha lá em casa, depois que várias receitas prontas não deram
certo.
É isso mesmo. Para entendermos a importância do engenheiro vamos falar
de bananas, bananadas e vovó.
A banana é um recurso natural, que não sofreu nenhuma transformação.
A bananada é =
a banana +
outros ingredientes +
a energia térmica fornecida pelo fogão +
o trabalho da vovó...
e +
o conhecimento, ou tecnologia da vovó.
Bem, a vovó é a dona do conhecimento, uma espécie de engenheira da culinária.
E a vovó?
A bananada é um produto pronto, que eu vou chamar de riqueza.
Agora, vamos supor que a banana e a bananada sejam vendidas.
Um quilo de banana custa um real.
Já um quilo da bananada custa cinco reais.
Por que essa diferença de preços?
Agora, quando a vovó, ou a indústria, faz a bananada, ela cria
empregos na indústria do açúcar, da cana-de-açúcar, do gás de cozinha,
na indústria de fogões, de panelas, de colheres e até na de
embalagens, porque tudo isto é necessário para se fabricar a bananada.
Porque quando nós colhemos um cacho de bananas na bananeira, criamos
apenas um emprego: o de colhedor de bananas.
Resumindo, 1kg de bananada é mais caro do que 1kg de banana porque a
bananada é igual banana mais tecnologia agregada, e a sua fabricação
criou mais empregos do que simplesmente colher o cacho de bananas da
bananeira.
Agora vamos falar de outro exemplo que acontece no dia-a-dia no
comércio mundial de mercadorias.
Em média: 1kg de soja custa US$ 0,10 (dez centavos de dólar), 1kg de
automóvel custa US$ 10, isto é, 100 vezes mais, 1kg de aparelho
eletrônico custa US$ 100, 1kg de avião custa US$1.000 (10mil quilos de
soja) e 1kg de satélite custa US$ 50.000.
Vejam, quanto mais tecnologia agregada tem um produto, maior é o seu
preço, mais empregos foram gerados na sua fabricação.
Os países ricos sabem disso muito bem. Eles investem na pesquisa
científica e tecnológica.
Por exemplo: eles nos vendem uma placa de computador que pesa 100g por US$ 250.
Para pagarmos esta plaquinha eletrônica, o Brasil precisa exportar 20
toneladas de minério de ferro.
A fabricação de placas de computador criou milhares de bons empregos
lá no estrangeiro, enquanto que a extração do minério de ferro, cria
pouquíssimos e péssimos empregos aqui no Brasil.
O Japão é pobre em recursos naturais, mas é um país rico.
O Brasil é rico em energia e recursos naturais, mas é um país pobre.
Os países ricos, são ricos materialmente porque eles produzem riquezas.
Riqueza vem de rico. Pobreza vem de pobre.
País pobre é aquele que não consegue produzir riquezas para o seu povo.
Se conseguisse, não seria pobre, seria país rico.
Gostaria de deixar bem claro três coisas:
1º) quando me refiro à palavra riqueza, não estou me referindo a jóias
nem a supérfluos. Estou me referindo àqueles bens necessários para que
o ser humano viva com um mínimo de dignidade e conforto;
2º) não estou defendendo o consumismo materialista como uma forma de
vida, muito pelo contrário;
3º) e acho abominável aqueles que colocam os valores das riquezas
materiais acima dos valores da riqueza interior do ser humano.
Existem nações que são ricas, mas que agem de forma extremamente pobre
e desumana em relação a outros povos.
Creio que agora posso falar do ponto principal.
Para que o nosso Brasil torne-se um País rico, com o seu povo vivendo
com dignidade, temos que produzir mais riquezas.
Para tal, precisamos de conhecimento, ou tecnologia já que temos
abundância de recursos naturais e energia.
E quem desenvolve tecnologias são os cientistas e os engenheiros, como
estes jovens que estão se formando hoje.
Infelizmente, o Brasil é muito dependente da tecnologia externa.
Quando fabricamos bens com alta tecnologia, fazemos apenas a parte
final da produção.
Por exemplo: o Brasil produz 5 milhões de televisores por ano e nenhum
brasileiro projeta televisor. O miolo da TV, do telefone celular e de
todos os aparelhos eletrônicos, é todo importado.
Somos meros montadores de kits eletrônicos.
Casos semelhantes também acontecem na indústria mecânica, de remédios
e, incrível, até na de alimentos.
O Brasil entra com a mão-de-obra barata e os recursos naturais. Os
projetos, a tecnologia, o chamado pulo do gato, ficam no estrangeiro,
com os verdadeiros donos do negócio.
Resta ao Brasil lidar com as chamadas caixas pretas.
É importante compreendermos que os donos dos projetos tecnológicos são
os donos das decisões econômicas, são os donos do dinheiro, são os
donos das riquezas do mundo.
Assim como as águas dos rios correm para o mar, as riquezas do mundo
correm em direção aos países detentores das tecnologias avançadas.
A dependência científica e tecnológica acarretou para nós brasileiros
a dependência econômica, política e cultural.
Não podemos admitir a continuação da situação esdrúxula, onde 70% do
PIB brasileiro é controlado por não residentes.
Ninguém pode progredir entregando o seu talão de cheques e a chave de
sua casa para o vizinho fazer o que bem entender.
Eu tenho a convicção que desenvolvimento científico e tecnológico aqui
no Brasil garantirá aos brasileiros a soberania das decisões
econômicas, políticas e culturais.
Garantirá trocas mais justas no comércio exterior.
Garantirá a criação de mais e melhores empregos.
E, se toda a produção de riquezas for bem distribuída, teremos a
erradicação dos graves problemas sociais.
O curso de engenharia da PUC, com todas as suas possíveis
deficiências, visa a formar engenheiros capazes de desenvolver
tecnologias.
É o chamado engenheiro de concepção, ou engenheiro de projetos.
Infelizmente, o mercado nacionalizado nem sempre aproveita todo este
potencial científico dos nossos engenheiros.
Nós, professores, não podemos nos curvar às deformações do mercado.
Temos que continuar formando engenheiros com conhecimentos iguais aos
melhores do mundo.
Eu posso garantir a todos os presentes, principalmente aos pais, que
qualquer um destes formandos é tão ou mais inteligente do que qualquer
engenheiro americano, japonês ou alemão.
Os meus quase trinta anos de magistério, lecionando desde o antigo
ginásio até a universidade, dá-me autoridade para afirmar que o
brasileiro não é inferior a ninguém, pelo contrário, dizem até que
somos muito mais criativos do que os habitantes do chamado primeiro
mundo.
O que me revolta, como professor cidadão, é ver que as decisões
políticas tomadas por pessoas despreparadas ou corruptas, são
responsáveis pela queima e destruição de inteligências brasileiras que
poderiam, com o conhecimento apropriado, transformar o nosso Brasil
num país florescente, próspero e socialmente justo.
Acredito que o mundo ideal seja aquele totalmente globalizado, mas uma
globalização que inclua a democratização das decisões e a distribuição
justa do trabalho e das riquezas.
Infelizmente, isto ainda está longe de acontecer, até por limitações
físicas da própria natureza.
Assim, quem pensa que a solução para os nossos problemas virá lá de
fora, está muito enganado.
O dia que um presidente da República, em vez de ficar passeando como
um dândi pelos palácios do primeiro mundo, resolver liderar um
autêntico projeto de desenvolvimento nacional, certamente o Brasil vai
precisar, em todas as áreas, de pessoas bem preparadas.
Só assim seremos capazes de caminhar com autonomia e tomar decisões
que beneficiem verdadeiramente a sociedade brasileira.
Será a construção de um Brasil realmente moderno, mais justo, inserido
de forma soberana na economia mundial e não como um reles fornecedor
de recursos naturais e mão-de-obra aviltada.
Quando isto ocorrer, e eu espero que seja em breve, o nosso País
poderá aproveitar de forma muito mais eficaz a inteligência e o
preparo intelectual dos brasileiros e, em particular, de todos vocês,
meus queridos alunos, porque vocês já foram testados e aprovados.
Finalmente, gostaria de parabenizar a todos os pais pela contribuição
positiva que deram à nossa sociedade possibilitando a formação dos
seus filhos no curso de engenharia da PUC.
A alegria dos senhores, também é a nossa alegria.
Muito Obrigado."