Poucas têm sido as iniciativas de se interpretar, para o público em geral, a relevância desse movimento na Europa daquele período e mundialmente nos séculos posteriores. E nas parcas oportunidades em que a Reforma é esmiuçada, o que se percebe é, de um lado, o uso político-ideológico que um ou outro grupo faz dessa alusão e de outro, um certo efeito decorativo, como a "cereja" de um bolo que celebra outras finalildades, no qual a Reforma é pretexto e, não, contexto.
Insiste-se na perspectiva histórica da Reforma, repetitivamente remarcando o cenário quinhentista, a oposição romanista, a fibra protestante e os efeitos imediatos do movimento em algumas atividades, como a religião, as artes, a ciência, o direito entre outras. Mas a Reforma só trouxe contribuições positivas? Na maioria das vezes, sim. Mas, mesmo que a Reforma não seja diretamente culpada por fatores que vieram em sua esteira, é preciso avaliar o impulso dado ao capitalismo que aprisionou os meios de produção, ao racionalismo que proclamou a autonomia do homem frente a Deus e a atomização que inaugurou a escalada no divisionismo das confissões cristãs.
Hoje, para se falar em Reforma Protestante, é preciso tomá-la na perspectiva desse lapso de cinco séculos. Só é possível avaliá-la em um conjunto: como o fato em si, os desdobramentos diretos e as influências que ela gerou. Uma idéia que bem representa o evento histórico pode ser vista no movimento das ondas que uma pedra atirada ao rio provoca na água. Assim, surgem algumas questões. A julgar pela pouca relevância que tantos lhe atribuem, teriam cessado as "ondas" produzidas pela Reforma? Haveria, hoje, necessidade de uma novo movimento análogo à Reforma Protestante? Quem e por quê encarna mais eficazmente os princípios da Reforma?
À medida em que o espírito supersticioso e relativizador da atualidade vai substituindo e refundindo-se com o acervo teológico, filosófico e ético que os reformadores legaram à humanidade, desenhando-lhe novo perfil, reinterpretar a Reforma Protestante a partir de seus pressupostos insinua ser de máxima urgência, antes que um senso alienante se imponha mundialmente como conteúdo obrigatório.