Toda técnica só é válida quando promove o ser humano em conexão com Deus, com o semelhante e com o ecossistema em que vive. Qualquer cultura só tem valor autêntico quando aperfeiçoa as pessoas para estas interagirem assim.
sexta-feira, 20 de janeiro de 2012
Favelas em Petrópolis ameaçam o idealismo romântico
Meu romantismo incurável fica arrevesado toda vez que vou a Petrópolis. O clima, o verde das matas e dos jardins salpicados de hortênsias, os nobres casarões do passado, enfim, coisas que inevitavelmente atuam em meu consciente e no subconsciente também. Com a esposa na Cidade Imperial, a inspiração vem à tona, mas, entre um apfelstrudel com café na Rua do Imperador e uma passada em frente à catedral de São Pedro de Alcântara, vemos, até sem querer, a quantas anda o estado de saúde econômica dessa jóia serrana.
Se, por um lado, o turismo petropolitano aparentemente não avançou muito, também não regrediu. Poderia ser melhor, mas faltam-me aqui dados mais concretos. Apesar disto, a imprensa do lugar aponta para seqüelas das chuvas de janeiro de 2011: caiu o número de visitantes no Museu Imperial, a antiga residência de verão da família de Pedro II. Perdem a economia, a cultura e o povo em geral. Mesmo a visão de uma capivara que passeia livremente às margens do rio Piabanha não será suficiente para incrementar, no sinuoso Centro do município, o turismo ecológico que lhe faria tão bem.
E andando pelo traçado histórico da cidade, não resistimos a comprar, na banca mesmo, como outrora se fazia, o periódico fresquinho com sotaque da serra. Desprovido de acesso à internet no quase isolamento das matas do Sertão do Carangola, leio na primeira página do jornal Tribuna de Petrópolis (27/12/2011) a manchete que preocupa: “Favelas da cidade cresceram 3.000%”. A matéria, explorada na página 3, mostra que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou dados do Censo 2010, com os números da favelização no município.
A população que mora em favelas cresceu assustadoramente desde o censo feito em 2000, quando existia apenas uma favela e esta com 110 domicílios precários e 820 pessoas residentes. Pelo estudo, em 2010, eram 25.117 habitantes vivendo em 15 favelas. Um aumento de 2.963%. A matéria informa que, atualmente, nas favelas de Petrópolis, o que mais preocupa população e autoridades não é a violência e sim a falta de infra-estrutura e riscos oriundos de desastres naturais.
É visível, nas médias cidades da Serra fluminense, o processo de favelização das periferias e encostas. Um dos resultados que mais aparece para a população em geral é a crônica situação de risco dos moradores dessas áreas. Sobretudo com enchentes e deslizamentos. Mas não é só isso. O estado precário do saneamento, da coleta de lixo, dos transportes públicos e da saúde deixa muito a desejar. E quem precisa dessas coisas – quase todos – tem de se sujeitar, às vezes, a humilhações, como longas filas em postos de saúde, insalubridade em bairros antes bucólicos e o desgaste para ir e vir.
Como ter um turismo de qualidade, em condições de competir com países onde esta atividade tem melhor suporte e é oferecida com mais qualidade de infra-estrutura e de mão-de-obra, com mais planejamento e organização?
Mas é possível melhorar e os trabalhadores serranos são capazes e têm vontade de aperfeiçoar o que fazem de melhor: receber visitantes. Já é visível a melhora da qualidade da água do rio Piabanha, principal curso d’água da cidade. Tomara que aconteça o mesmo em outros rios. E há outros avanços.
Além da profissionalização de funcionários para o turismo e o surgimento de empresas dedicadas ao setor, palmas, por exemplo, para a correta decisão de, em cada produto do município, haver no rótulo a coroa imperial como emblema, projetando para além da cidade a manufatura local com a informação "Produto de Petrópolis". Outra medida valiosa a ser aprimorada é o estímulo à qualificação de jovens e reciclagem de idosos para os setores turístico e de confecções, atividade em que Petrópolis e outras cidades serranas se destacam virtualmente. Há ainda o setor da pesquisa e da preservação ecológica, que pode alavancar profissionais de alta qualificação e valorizados no mercado internacional.
Como todo romântico, espero que em minha próxima ida à Serra haja mais verde e menos favelas e que a boa qualidade de vida deixe as pessoas mais felizes.
Fotos: catedral - pt.wikipedia.org / favela - folhapopular.net.br