Luciano P. Vergara
Liguem as luzes dos giroflexes! Ponham as patrulinhas na rua! A malta do reality show deita e rola na baixeza. Aquela gentalha escalada para o entretenimento que vai transformando a programação televisiva em uma sucessão de vilezas cada vez mais nojentas, agora, protagoniza um caso policial na tela da TV.
Passando pela banca de jornais, vejo um que traz na primeira página: "Deu ruim no BBB. Pode ter havido estupro em reality show".
Asco! Essa polêmica serve apenas para aquecer a morbidez de uma multidão de cabeças-ocas em torno de um inútil formato de programa, que emissoras como a Globo e a Record têm tido a desfaçatez de empurrar goela abaixo de milhões de telespectadores.
É lamentável, mas apesar do mau gosto beirar a falsidade ideológica, o atentado ao pudor, o assassinato cultural e, agora, uma suspeita de estupro, a Justiça não tem um de seus representantes que proponha sequer uma reunião com os magnatas da TV para pedir a elevação do nível. Difícil crer que, com a conjunção carnal não consentida sob o edredom diante da câmera, a justiça vá levantar-se para fazer alguma coisa a respeito.
Para mim, isto é a indisposição geral para vencer a letargia do estado moral pecaminoso de grandes e pequenos que não encontra ressonância na consciência nacional. Não adianta as massas desaprovarem hipocritamente, abanarem a cabeça, se os olhos buscam com sofreguidão impudica imagens que só fazem reforçar o sucesso maligno desse tipo de entretenimento.
Os cretinos que saciam sua mórbida curiosidade nas cenas insólitas que a TV expõe sem escrúpulos ainda vão acusar os protagonistas do suposto estupro televisado. De certo, irão chamar as "despersonalidades" do Plim-Plim de indecentes, vulgares, desclassificados. Quanta indignação, não é mesmo?
Mas a cereja esperada desse bolo será ouvir de produtores que é intocável a liberdade de expressão. Os falsos profetas da cultura de massa usam sistematicamente essa desculpa, a mais deslavada das conversas-moles, para seguirem vomitando lixo dentro dos lares inertes. Crime? Marketing? Com certeza, uma agressão ao recesso de nossos domicílios.
Um jornal carioca refere uma jovem "trêbada", informando o vexame sofrido sob o edredom, por baixo do qual um gaiato, com ou sem ela deixar, aplica-lhe um insolente vai-e-vem. A jovem em questão diz que, embriagada como se achava, não sabe se fez ou deixou de fazer. Sua família se encoleriza de indignação pelo modo como o atrevido se aproveitou de sua meiga inocência.
Aliás, outras famílias dizem-se "chocadas" com o comportamento do malfeitor. Será, contudo, que estão dispostos a abandonar o televisor ou estariam, em verdade, querendo ver mais detalhes do insólito intercurso? Que canalha!
Enquanto o "ibope" do mal estoura os cofres dessa corja e as coisas ficam como o diabo gosta, a decantada liberdade de expressão, fruto da luta por um direito inalienável, acaba sendo desculpa para o entulhamento espiritual da gente brasileira. Situação deplorável, que requer atitude mais extremada: o boicote a essa programação de mau gosto.
Sem telespectadores dispostos a assistir à enxurrada de mediocridades que desfila solertemente no ecrã colorido, acaba-se o patrocínio. Sem verba, adeus BBB!