terça-feira, 29 de novembro de 2011

Igrejas internacionais e o futuro das comunidades multi-étnicas na Europa

Uma olhada de relance em um prospecto em inglês e a sigla Feic lembrou-me o vocábulo fake, que pode ser traduzido por algo falso, uma imitação etc. No entanto, falando sobre a organização retratada no prospecto, chega-se à conclusão de que a novidade, que iniciou atividades em 2004, pode ser uma das mais novas e eficazes maneiras de driblar a tendência geral de esvaziamento dos templos protestantes do Velho Mundo.

Um pastor pentecostal brasileiro que regressou da Europa recentemente relatou a empolgação que tem dominado as comunidades de imigrantes naquele continente e que, até bem pouco tempo, tinham a perspectiva de se reunir para cultuar apenas em pequenos grupos marginais. A organização, cuja sigla em inglês é Fellowship of European International Churches (Fraternidade de Igrejas Européias Internacionais), afirma que seus propósitos são: plantar novas igrejas, levar igrejas existentes ao desenvolvimento estratégico e ser parceira de igrejas nacionais na realização do ministério internacional. Sua principal aliada é a organização pentecostal Missões Mundiais das Assembléias de Deus (AGWM).

– “As igrejas estão cheias, com gente que veio de várias partes do mundo: alguns encontros acontecem em galpões adaptados que concentram espaços para atividades de diversas culturas estrangeiras. São reuniões com cerca de 1.500 pessoas”, comemora o pastor.

A Feic tem parcerias também com o grupo Mosaix e a Fraternidade Européia Pentecostal (PEF, em inglês), patenteando a natureza carismática do movimento. Mas o que mais chama a atenção é que o propósito é agir ministerialmente em cenários alternativos do universo populacional da Europa e tratar os imigrantes como o seu virtual campo missionário, reconhecendo e agindo na Europa junto a uma mescla urbana e atingindo, por tabela, conexões em todas as partes do mundo. Assim, as igrejas que participam da Feic buscam a sustentabilidade dentro desse modelo de relacionamento, compartilhando alguns recursos específicos a seu respectivo ministério, compartilhando dicas de planejamento e ferramentas diversas para o aprimoramento de seu pessoal, a renovação estratégica e o desenvolvimento de lideranças.

Nos termos-chave usados pela Feic e suas parceiras descobre-se a intenção de criarem-se novas igrejas multi-étnicas, ter mais trabalho em rede (network) e desenvolver relacionamento entre pessoas que se vêem como pioneiros em uma nova terra. Quem integra o movimento se sente inspirado pelas oportunidades únicas de atender necessidades e enfrentar desafios nas comunidades internacionais em diversos países europeus e se orgulha de que suas congregações são um entrelaçado de culturas, raças, povos, línguas e tradições.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Quem acha que a divisão do Pará vai virar roubalheira?

Este texto mostra com clareza a coragem e a visão do padre Antônio Vieira. Faz falta a sua leitura por todos os brasileiros, pois é incrível a semelhança dos fatos do século XVII com os dias atuais, com o abandono das populações de Pará e Maranhão na atualidade, cuja explicação se percebe na narrativa histórica.


TAPAJÓS E CARAJÁS: FURTO, FURTEI, FURTAREI
Texto do professor José Ribamar Bessa Freire publicado no jornal Diário do Amazonas (09/10/2011)

Essa foi a vaia mais estrondosa e demorada de toda a história da Amazônia. Começou no dia 4 de abril de 1654, em São Luís do Maranhão, com a conjugação do verbo furtar, e continuou ressoando em Belém, num auditório da Universidade Federal do Pará, na última quinta-feira, 6 de outubro, quando estudantes hostilizaram dois deputados federais que defendiam a criação dos estados de Tapajós e Carajás.

A vaia, que atravessou os séculos, só será interrompida no dia 11 de dezembro próximo, quando quase 5 milhões de eleitores paraenses irão às urnas para votar, num plebiscito, se querem ou não a criação dos dois Estados desmembrados do Pará, que ficará reduzido a apenas 17% de seu atual território caso a resposta dos eleitores seja afirmativa.

A proposta de divisão territorial não é nova. Embora o fato não seja ensinado nas escolas, o certo é que Portugal manteve dois estados na América: o Estado do Brasil e o Estado do Maranhão e Grão-Pará, cada um com governador próprio, leis próprias e seu corpo de funcionários.

Somente um ano depois da Independência do Brasil, em agosto de 1823, é que o Grão-Pará aderiu ao estado independente, com ele se unificando.

Pois bem, no século XVII, a proposta era criar mais estados. Os colonos começaram a pressionar o rei de Portugal, D. João IV, para que as capitanias da região norte fossem transformadas em entidades autônomas. O padre Antônio Vieira, conselheiro do rei de Portugal, D. João IV, convenceu o monarca a fazer exatamente o contrário, criando um governo único do Estado do Maranhão e Grão-Pará sediado inicialmente em São Luís e depois em Belém.

Para isso, o missionário jesuíta usou um argumento singular. Ele alegava que se o rei criasse outros estados na Amazônia, teria que nomear mais governadores, o que dificultaria o controle sobre eles. É mais fácil vigiar um ladrão do que dois, escreveu Vieira em carta ao rei, de 4 de abril de 1654: “Digo, senhor, que menos mal será um ladrão que dois, e que mais dificultoso será de achar dois homens de bem que um só”.

Num sermão que pregou na sexta-feira santa, já em Lisboa, perante um auditório onde estavam membros da corte, juízes, ministros e conselheiros da Coroa, o padre Vieira, recém-chegado do Maranhão, acusou os governadores, nomeados por três anos, de enriquecerem durante o triênio, juntamente com seus amigos e apaniguados, dizendo que eles conjugavam o verbo furtar em todos os tempos, modos e pessoas. Vale a pena transcrever um trecho do seu sermão:

– “Furtam pelo modo infinitivo, porque não tem fim o furtar com o fim do governo, e sempre lá deixam raízes em que se vão continuando os furtos. Esses mesmos modos conjugam por todas as pessoas: porque a primeira pessoa do verbo é a sua, as segundas os seus criados, e as terceiras quantos para isso têm indústria e consciência”.

Segundo Vieira, os governadores ”furtam juntamente por todos os tempos”. Roubam no tempo presente , “que é o seu tempo” durante o triênio em que governam, e roubam ainda ”no pretérito e no futuro”. Roubam no passado perdoando dívidas antigas com o Estado em troca de propinas, “vendendo perdões” e roubam no futuro quando “empenham as rendas e antecipam os contrato, com que tudo, o caído e não caído, lhe vem a cair nas mãos”.

O missionário jesuíta, conselheiro e confessor do rei, prosseguiu: “Finalmente, nos mesmos tempos não lhe escapam os imperfeitos, perfeitos, mais-que-perfeitos, e quaisquer outros, porque furtam, furtavam, furtaram, furtariam e haveriam de furtar mais se mais houvesse. Em suma, que o resumo de toda esta rapante conjugação vem a ser o supino do mesmo verbo: a furtar, para furtar. E quando eles têm conjugado assim toda a voz ativa, e as miseráveis províncias suportado toda a passiva, eles como se tiveram feito grandes serviços tornam carregados de despojos e ricos; e elas ficam roubadas e consumidas”.

Numa atitude audaciosa, padre Vieira chama o próprio rei às suas responsabilidades, concluindo: “Em qualquer parte do mundo se pode verificar o que Isaías diz dos príncipes de Jerusalém: os teus príncipes são companheiros dos ladrões. E por que? São companheiros dos ladrões, porque os dissimulam; são companheiros dos ladrões, porque os consentem; são companheiros dos ladrões, porque lhes dão os postos e os poderes; são companheiros dos ladrões, porque talvez os defendem; e são finalmente, seus companheiros, porque os acompanham e hão de acompanhar ao inferno, onde os mesmos ladrões os levam consigo”.

Os dois novos Estados – Carajás e Tapajós – se criados, significam mais governadores, mais deputados, mais juizes, mais tribunais de contas, mais mordomias, mais assaltos aos cofres públicos. Por isso, o Conselho Indígena dos rios Tapajós e Arapiuns, sediado em Santarém, representando 13 povos de 52 aldeias, se pronunciou criticamente em relação à proposta. Em nota oficial, esclarece: “Os indígenas, os quilombolas e os trabalhadores da região nunca estiveram na frente do movimento pela criação do Estado do Tapajós, porque essa não era sua reivindicação e também porque não eram convidados. Esse movimento foi iniciado e liderado nos últimos anos por políticos. E nós temos aprendido que o que é bom para essa gente dificilmente é bom para nós”.


O professor José Ribamar Bessa Freire coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas (UERJ), pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Memória Social (UNIRIO).

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Brasil transparente

Com a lei que promete passar o país a limpo e revelar os porões da ditadura, acredita-se que a memória dos "anos de chumbo" virá à tona e a verdade que está para brotar confirmará anjos e demônios dos 21 anos do regime de exceção.

"Todo país tem o direito de conhecer a sua própria história" é, certamente, uma bonita frase de efeito. Haverá alguém contra tal aspiração? Nem seria preciso responder, mas apenas se as verdades sobre os dois lados antagônicos da sociedade - que muitos supõem serem a sociedade e os militares - puderem ser avaliados com imparcialidade, usando-se pesos iguais.

Revelar os porões do Brasil de 1964 a 1985 pode requerer um instituto de criminalística (um "CSI", como está na moda). Mas é possível que uma parcela interessada dos personagens envolvidos, de ambos os lados, queira ganhar as benesses da história apenas com a claque, assobiando, batendo palmas, com faixas e buzinas. Pra quê investigar, colher impressões digitais, gravar depoimentos e outras provas? Basta o que dizem as "vítimas", entre eles José Genoíno e José Dirceu, dois denunciados por escândalos político-econômicos, de um lado, e dentre os fascistas da ditadura, pelo menos os que sobraram, supostamente pessoas do relacionamento do deputado federal Jair Bolsonaro, no outro extremo. E não esqueçam a própria presidente da República, Dilma Roussef, na ala esquerda, com seus antigos companheiros de armas.

Apesar da Lei da Anistia, hoje com mais de 30 anos, a chegada da onda revisionista parece vir para fazer justiça contra um dos lados e credenciar, pelos livros escolares, as barbas dos novos santos do marxismo latino-americano. Uma investigação autônoma, porém, terá de ser, necessariamente, isenta e equilibrada. Mas quem está preocupado com isto? Importante mesmo é que apenas uma versão da história predomine. E ninguém duvida de qual lado terá sua versão como a única expressão da verdade.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

DESOCUPADO CAMPUS DA USP

Homens da Polícia Militar de São Paulo cumpriram, na terça-feira, 8 de novembro, a missão de desocupar o prédio da reitoria da Universidade de São Paulo (USP), invadido desde a madrugada do dia 2 por estudantes que exigiam o fim da presença da PM no campus.

Cerca de 400 policiais, apoiados por helicópteros e cavalaria, entraram na reitoria da USP, na zona oeste da capital paulista, e pelo menos 70 estudantes foram levados à delegacia. No local desocupado foram encontrados rojões e explosivos artesanais ao lado de uma pichação em que aparece uma viatura da polícia sendo virada por manifestantes mascarados e portando um coquetel molotov (espécie de bomba caseira feita de garrafa, combustível e pavio).

O portão que dá acesso ao prédio foi arrombado por cerca de 400 policiais no fim da madrugada e, segundo a coronel PM Maria Aparecida de Carvalho, esse efetivo atuou para que tudo ocorresse pacificamente. Por razões ainda a serem melhor esclarecidas, essas providências só ocorreram oito dias após a invasão, cometida por elementos derrotados em uma votação organizada pelos próprios estudantes, contrariando a vontade da maioria e dos representantes legais da universidade.

A PM informou que 70 estudantes – 46 homens e 24 mulheres – foram retirados do prédio e detidos no 91º DP para averiguação e posteriormente fichados pela Polícia Civil. Na seqüência, os envolvidos responderão por não terem cumprido a ordem judicial de abandonar o prédio no prazo dado pela Justiça. Caso a perícia comprove estragos, eles também responderão por danos ao patrimônio público.


ACABOU A BAGUNÇA

Além do vandalismo constatado, exemplos de anarquia exibiram, por mais de uma semana, a falta de energia e decisão das autoridades, aparentemente preocupadas com uma repercussão supostamente negativa, caso a lei fosse aplicada e os invasores se passassem por vítimas no processo do restabelecimento da ordem.

A imprensa só teve acesso ao prédio da reitoria após a desocupação, mas constatou-se que paredes e estátuas foram vandalizadas e havia diversas manifestações contra a gestão do reitor João Grandino Rodas.

A ocupação do prédio da reitoria da USP começou como um protesto pela detenção de três estudantes que estariam fumando maconha no estacionamento durante uma festa promovida no campus na semana anterior. As reivindicações dos estudantes foram ouvidas, deixando então a reitoria, e promoveram uma assembléia na noite de terça-feira, que decidiu pelo cancelamento de nova invasão.

Foi num ato anti-democrático que uma minoria de baderneiros resolveu afrontar a polícia e a sociedade. Considerando o histórico de resistência aos atos de intransigência vividos no passado, os invasores aparentemente contaram com o temor das autoridades de serem vistas com antipatia por ingressar no campus para garantir a ordem e inibir práticas anti-sociais.

Foram divulgadas pela reitoria da USP imagens que mostram o momento em que várias pessoas forçam o portão e invadem o local. Mas os estudantes se dividem entre os que são favoráveis à presença da PM, que atende a um pedido da universidade após a morte de um estudante, supostamente durante um assaltado no campus, e os que não desejam as patrulhas no local. Já alunos contrários à presença da polícia, sem se identificar e de rosto encoberto, dizem que a PM age com truculência.

Fonte: Ig Último Segundo

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Fórum da Aliança Cristã Evangélica

Já se inscreveu para o 1º Fórum da Aliança Cristã Evangélica Brasileira, que acontecerá em Brasília, de 24 a 26 de novembro? A dica é entrar na página da Aliança (www.aliancaevangelica.org.br/forum) e se inscrever.

O custo da inscrição é de 80 reais e é aberto a pastores e leigos indistintamente.