segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Arco-íris

O texto a seguir foi escrito antes do Natal de 2011, mas só foi postado em janeiro de 2012. Mas o mais importante dele não é a época e sim a reflexão que ele pretende ensejar.


As chuvas que têm marcado estes últimos dias da primavera no Rio de Janeiro deixam sempre um arco-íris que se exibe a nordeste de onde o vejo. Vejo-o sobre a Serra do Mar, como que cobrindo Teresópolis ou, melhor, como um dossel para o Dedo de Deus.

Um arco-íris, a despeito de ser um mero fenônemo físico de refração da luz difundida na atmosfera quando permeada pelas gotículas de água nas nuvem que flutuam baixas, perto do chão, anuncia a fidelidade e a misericórdia de Deus para com a espécie humana. Observá-lo no céu, contra o fundo plúmbeo das nuvens de chuva, inspira a certeza de que Ele é paciente, benigno e demorado em irar-se. No entanto, a quem se esquece de que Deus é clemente, mas também é justo, o mesmo arco-íris que anuncia longanimidade traz consigo a advertência da punibilidade dos filhos de Adão.

E justamente a propósito de continuarmos a ver o arco-íris, é que sua figura se faz tão atual e necessária. Sim, e isso exatamente pelo fato de que a raça humana se tem tornado cada vez mais cínica e insensível e sempre, sempre mais ensandecida pelo êxtase de suas culpas. Por mais informada e esclarecida, ela só sabe aumentar a sanha de sua opressão, a malignidade de sua violência, a insensatez de seus crimes contra tudo que vive sob a abóbada celeste.

Floresce sob o céu a civilização moderna – que só é de fato moderna para minorias que, afortunadamente, conseguem desfrutar dos avanços jurídicos, sociais e tecnológicos da atualidade. Mas na medida em que a humanidade ocupa espaços, contraditoriamente oscila entre luxo e miséria, conforto e sofrimento, gênio e estupidez, beleza e fealdade.

Ver no céu o arco da aliança de paz é, ao mesmo tempo, a certeza de que nenhum temporal, por pior que seja, jamais poderá destruir a humanidade e que, igualmente, Deus impõe a si mesmo o ônus da vigilância e do juízo sobre o que faz essa humanidade, responsável, queira ou não, por seus rumos sobre a Terra.