sábado, 1 de novembro de 2008

Reforma ontem e hoje


Faz 491 anos que a Reforma Protestante teve o seu marco na história. Para pensá-la historicamente, hoje, é preciso muito mais que dados cronológicos e biografias que, o mais das vezes, são pesquisadas apenas para qualificar traços da personalidade das figuras envolvidas no conjunto a que se dá o nome de Reforma Protestante. Geralmente, tais biografias funcionam mais como pretexto para legitimar discursos da atualidade, numa evocação recorrente dedutível da credibilidade dos biografados.

Poucas têm sido as iniciativas de se interpretar, para o público em geral, a relevância desse movimento na Europa daquele período e mundialmente nos séculos posteriores. E nas parcas oportunidades em que a Reforma é esmiuçada, o que se percebe é, de um lado, o uso político-ideológico que um ou outro grupo faz dessa alusão e de outro, um certo efeito decorativo, como a "cereja" de um bolo que celebra outras finalildades, no qual a Reforma é pretexto e, não, contexto.

Insiste-se na perspectiva histórica da Reforma, repetitivamente remarcando o cenário quinhentista, a oposição romanista, a fibra protestante e os efeitos imediatos do movimento em algumas atividades, como a religião, as artes, a ciência, o direito entre outras. Mas a Reforma só trouxe contribuições positivas? Na maioria das vezes, sim. Mas, mesmo que a Reforma não seja diretamente culpada por fatores que vieram em sua esteira, é preciso avaliar o impulso dado ao capitalismo que aprisionou os meios de produção, ao racionalismo que proclamou a autonomia do homem frente a Deus e a atomização que inaugurou a escalada no divisionismo das confissões cristãs.

Hoje, para se falar em Reforma Protestante, é preciso tomá-la na perspectiva desse lapso de cinco séculos. Só é possível avaliá-la em um conjunto: como o fato em si, os desdobramentos diretos e as influências que ela gerou. Uma idéia que bem representa o evento histórico pode ser vista no movimento das ondas que uma pedra atirada ao rio provoca na água. Assim, surgem algumas questões. A julgar pela pouca relevância que tantos lhe atribuem, teriam cessado as "ondas" produzidas pela Reforma? Haveria, hoje, necessidade de uma novo movimento análogo à Reforma Protestante? Quem e por quê encarna mais eficazmente os princípios da Reforma?


À medida em que o espírito supersticioso e relativizador da atualidade vai substituindo e refundindo-se com o acervo teológico, filosófico e ético que os reformadores legaram à humanidade, desenhando-lhe novo perfil, reinterpretar a Reforma Protestante a partir de seus pressupostos insinua ser de máxima urgência, antes que um senso alienante se imponha mundialmente como conteúdo obrigatório.