quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Dores que nos transformam

Dores que nos transformam - Quando frágeis, então somos fortes. Edson Fernando e Jonas Rezende. Editora Mauad, 2002. 135 pág.


Quase a totalidade das pessoas tem pavor à morte e as dores. Nem sempre, portanto, há quem se disponha a discutir o assunto, pelo menos, de maneira suave e relevante. Em Dores que nos transformam os pastores Edson Fernando e Jonas Rezende tentam dar conta do desafio.

Fernando, pastor da Igreja Cristã de Ipanema, no Rio, teve a iniciativa a partir de sua experiência assistindo famílias no hospital e de sua própria enfermidade. Jonas Rezende é conhecido nos meios acadêmicos e na TV Educativa (RJ), pai da atriz Lídia Brondi e freqüentemente relacionado ao amigo Neemias Marien, este reputado por muitos evangélicos como apóstata. A participação, proporcionalmente menor, de Jonas no livro deve-se a um projeto adiado dos autores e a experiência pessoal. Em 2001, Rezende lançou, também pela Mauad, A família maldita, onde tratou de alguns de seus dramas familiares, inclusive o afastamento de Lídia das telas da TV Globo.

"Para alguns, a dor convida à quietude. Para outros, à oração. Outros se entregam ao lamento".

Habituados a ouvir e aconselhar pessoas com as mais diversas inquietações da alma e do espírito, sobretudo gente que circula nos meios mais esclarecidos e liberais, Fernando e Rezende escrevem em um tom que tende ao intimismo. Talvez por isto, a leitura dá a impressão de estarem, eles mesmos, expiando suas próprias dores, embora a tentativa evidente é "chorar com os que choram".

Para dar suporte aos comentários, as três seções se organizam num plano comum. Dores... oferece o ser humano como ponto de partida para a relação do ser humano em relação à pluralidade da vida, a dignidade na dor e a integridade na morte. E, sobre todas as frustrações que acompanham a existência humana, a morte talvez exerça a mais densa influência sobre o imaginário, com diversas manifestações simbólicas que se percebem no comportamento social e pessoal. Para quem não equacionou suas contas com a morte, a terceira parte do livro seria, via de regra, a primeira a ser folheada.

Rubem Alves, para quem a vida não se define biologicamente, questiona quem e o que define a vida: "na minha experiência de ser humano, nunca me encontrei com a vida sob a forma de batidas de coração ou ondas cerebrais". O pensador, de fundo evangélico, também é citado no livro.

O projeto, despretensioso, com um texto que o recomenda apenas a um grupo seleto, indica que também existe atividade evangélica fora do círculo das principais editoras do meio. Numa situação assim, duas coisas chamam a atenção. A primeira é que, como não está no set das ditas evangélicas, a Mauad não conta com - e talvez nem pretenda - o público das demais, abrindo-se para outros segmentos. Sem público específico, é provável que a produção dependa do prestígio dos autores junto a amigos, colegas, alunos ou familiares. A segunda é que, a despeito do prefácio de Dores... admitir a intenção de não restringi-lo a "cinco ou seis pessoas", tudo aponta para a difícil tarefa de atrair leitores dispersos no público. Por exemplo, em que nicho identificam-se universitários evangélicos?