quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Eu sei


Eu sei

Luciano P. Vergara


Eu sei, meu Deus, as coisas que fiz.

Digo que sei porque tenho consciência

De meus atos, pensamentos e sentimentos.

E porque tenho consciência,

De tais coisas é que digo que eu sei.


A consciência que tenho não é só das coisas

Que sei que fiz e que faço;

É de muito mais.

Também muito sei do que outros fazem.

Mas o que digo a ti se refere apenas

Às coisas que fiz e que faço.

Porque só elas importam aqui.

Do que outros fizeram e fazem,

Só eles devem falar, não eu.


Meu Deus, de tudo isso que sei,

Eu falo baixinho.

E enquanto eu falo, os olhos marejam.

Embarga-me a voz!

Teus olhos mirando, amorosos, serenos,

A um só tempo firmes, atentos...

... Nada foge à sua argüição.

Teus olhos me varam,

Mas, gentis, comunicam.

Insistem na paz.


Eu sei, não posso esquecer

Que, ’inda à beira da morte, no azar ou na sorte,

A alma, ansiosa, suspira e pede perdão.

Eu fito esses olhos, gentis, caridosos,

Amor repartido, corrige e ensina a não mais pecar.


Eu sei, meu Deus, eu pequei

Por atos, palavras, a fazer ou fugindo de fazer.

Eu sei, tenho culpa e a culpa que tenho

Tu a queres levar sobre os ombros de Cristo,

Na cruz de Jesus, enquanto esses olhos

Ainda me inspiram – até me assustam! –

E enquanto vasculham, também consolam todo o meu ser.