quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Eu não, Cabral

Pode ser que seja o caso de muita gente. Pode ser também que isso tenha se tornado tão normal que até virou coisa banal. No meu caso, desculpe, governador Sérgio Cabral, mas eu nunca tive uma namoradinha que teve de abortar.

Se não houvesse essa banalização da vida e das relações entre as pessoas que supostamente deveriam se amar, você não teria dito sem constrangimentos que abortar, em outras palavras, é apenas um resultado indesejado de uma brincadeira de adolescentes.

Mas se fui eu que me tornei uma rara exceção, confesso que nem percebi. Um exemplar remanescente de uma mentalidade que acredita em preservar a mulher amada, como uma jóia cara e delicada que se prepara para ser a mãe de filhos e filhas, uma rainha cercada de amor e cuidados.

Romântico incurável, nem acreditei que a generalização em sua boca fosse a declaração de um governante que apareceu na política como o "netinho" que defendia o direito das pessoas idosas. Mas o que choca no ato falho perpetrado diante de tantos microfones não é a impudicícia que mal se disfarça atrás de um eventual mea culpa, mas o reconhecimento tácito de que é válido usar as namoradinhas como vaso das fisiologias inconseqüentes de jovens que cedo exibem o caráter aprendido a partir de modelos a eles familiares.

Por haver mandatários sem vontade política de pautar a reeducação de valores que preservem a responsabilidade e o senso de justiça no âmbito familiar é que ainda estamos tão longe de políticas adequadas para conter a AIDS, a gravidez na adolescência, a promiscuidade que excita a juventude e a aproxima da prostituição infanto-juvenil.

A minha namorada da juventude é hoje a mulher com quem sou casado e com quem tenho três filhos. Dou graças a Deus por ela jamais ter conhecido o aborto.