quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Disposição para correr ou para ficar inerte?

Vendo imagens, hoje, de pessoas que corriam para dentro de um posto de distribuição de medicamentos, lembre-me do verso bíblico: “Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia” (Rm 9.16). Dentre os que correram, houve quem alcançasse o que buscava e outros, não, mesmo tendo corrido até ao fim. Isto é justo? A máxima paulina na Carta aos Romanos aparece em meio a uma discussão sobre a posição dos israelitas na Redenção: Deus usa de misericórdia para com quem lhe apraz, pois não há merecimento humano na salvação. Mas percebemos que a vida, enquanto experiência temporal, não é justa. E também não é injusta. Na verdade, em termos de biologia, não existe uma moral que determina sorte ou azar. Como determinar e como julgar o aparecimento de uma enfermidade que acomete a uma pessoa boa e generosa: Deus quis? Maldição? Acaso? O quê? Quanto à competição pela sobrevivência, a disputa é essencial à preservação de uns enquanto outros sucumbem devido às suas limitações e ao despreparo para competir. Então, como vencer na competição pela sobrevivência? Contudo, cremos que o Deus da Bíblia, é soberano e interpõe sua vontade a favor daqueles a quem ele concede o seu favor. Por misericórdia, Deus interfere em nosso tempo-espaço e conduz ações e canaliza recursos – tudo sobre o que ele tem domínio, isto é, sobre todas as coisas – e aloca-os para que se saiam vitoriosos aqueles e aquelas que nele confiam. Às vezes, é preciso correr, por-se em marcha (Ex 14.15). Outras vezes, é preciso parar e esperar (2 Cr 20.17). Na afirmação de Paulo aos romanos – que depende de “usar Deus a sua misericórdia” – está a resposta que buscamos. Misericórdia não é o mesmo que justiça, menos ainda, merecimento; misericórdia é usar de benevolência para com pecadores. Então, é preciso reconhecer o estado de indigência moral e clamar por bondade, mesmo sem merecer. Na distribuição de medicamentos, porém, não é o caso de usar misericórdia. As pessoas com receita em ordem para receber, independentemente de senha ou momento de chegada, tem direito a receber, pois é dever do Estado assegurar um serviço de saúde universal e gratuito.