quarta-feira, 23 de abril de 2008

Libertos por Cristo para anunciar a graça - Lucas 8.26-39

26 Então, rumaram para a terra dos gerasenos, fronteira da Galiléia.
27 Logo ao desembarcar, veio da cidade ao seu encontro um homem possesso de demônios que, havia muito, não se vestia, nem habitava em casa alguma, porém vivia nos sepulcros.
28 E, quando viu a Jesus, prostrou-se diante dele, exclamando e dizendo em alta voz: Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Rogo-te que não me atormentes.
29 Porque Jesus ordenara ao espírito imundo que saísse do homem, pois muitas vezes se apoderara dele. E, embora procurassem conservá-lo preso com cadeias e grilhões, tudo despedaçava e era impelido pelo demônio para o deserto.
30 Perguntou-lhe Jesus: Qual é o teu nome? Respondeu ele: Legião, porque tinham entrado nele muitos demônios.
31 Rogavam-lhe que não os mandasse sair para o abismo.
32 Ora, andava ali, pastando no monte, uma grande manada de porcos; rogaram-lhe que lhes permitisse entrar naqueles porcos. E Jesus o permitiu.
33 Tendo os demônios saído do homem, entraram nos porcos, e a manada precipitou-se despenhadeiro abaixo, para dentro do lago, e se afogou.
34 Os porqueiros, vendo o que acontecera, fugiram e foram anunciá-lo na cidade e pelos campos.
35 Então, saiu o povo para ver o que se passara, e foram ter com Jesus. De fato, acharam o homem de quem saíram os demônios, vestido, em perfeito juízo, assentado aos pés de Jesus; e ficaram dominados de terror.
36 E algumas pessoas que tinham presenciado os fatos contaram-lhes também como fora salvo o endemoninhado.
37 Todo o povo da circunvizinhança dos gerasenos rogou-lhe que se retirasse deles, pois estavam possuídos de grande medo. E Jesus, tomando de novo o barco, voltou.
38 O homem de quem tinham saído os demônios rogou-lhe que o deixasse estar com ele; Jesus, porém, o despediu, dizendo:
39 Volta para casa e conta aos teus tudo o que Deus fez por ti. Então, foi ele anunciando por toda a cidade todas as coisas que Jesus lhe tinha feito.

Introdução:
O texto é claro. Jesus chega a uma vila dos gadarenos, próxima ao Mar da Galiléia. Aquela região (Decápolis) havia séculos fora cedida pelos dominadores assírios a outros povos, mistruando assim as antigas linhagens israelitas, com a finalidade de quebrar-lhe a identidade cultural e política.
A espiritualidade do povo local era principalmente pagã, com apenas alguns traços das antigas tradições israelitas. Suas formas de culto estavam repletas de superstições e alheias às crenças bíblicas de seus antepassados. A adoração a divindades pagãs e formas bizarras de religião punham as pessoas em contato com práticas ocultistas em cerimônias que invocavam entidades condenáveis. O homem que foi ao encontro de Jesus representava a profunda opressão espiritual e ignorância religiosa em que vivia o povo do lugar, necessitando de libertação e sentido para a sua vida.
O encontro pessoal com Jesus tem poder tremendamente transformador. Pode-se afirmar que na vida de alguém sobre quem Jesus incide esse poder há, nitidamente, um antes e um depois desse encontro.
Em uma estada do Senhor em Decápolis, região cujos habitantes descendiam da mestiçagem genética, cultural e religiosa, com o conseqüente abandono da tradicional religiosidade judaica, e ali Jesus se defrontou com um homem gadareno cujo espírito estava refém do pecado arrasador e destruidor do caráter. Esse homem já perdera as referências de sua identidade, dignidade e objetivo de vida; ele pertencia a um poder que não podia controlar, mas que o controlava e humilhava. As pessoas de sua comunidade nada podiam fazer para ajudá-lo e apenas o queriam longe de suas vidas e seus negócios.
Mas a experiência do gadareno com o Cristo marcou o fim de sua escravidão espiritual e o libertou para ter personalidade e dignidade de volta, como isso também o animava a testemunhar do favor de Deus.

Só Jesus nos leva a uma experiência que liberta e inspira a anunciar a graça maravilhosa do Senhor

I. O gadareno, antes e depois de seu encontro com Jesus
1) Antes - Lc 8.27-31:
a - desfigurado: ferido
b - atormentado: andava de dia e de noite
c - enfurecido: louco indomável
d - indigno: separado de todos, em lugar ermo e impróprio

2) Depois - Lc 8.35-39:
a - lúcido e tratável: comportamento e aparência normais
b - pacificado: aos pés de Jesus
c - manso e amigável: desejando a companhia de Jesus
d - reabilitado socialmente: testemunha da graça de Deus

II. Duas etapas e uma lição no processo de recuperação
1) O espírito imundo
a - dissimulado: vive do engano e ilusão (aliena, enlouquece)
b - não quer ser importunado: recusa o desafio, pois é fraco (teme o confronto com a verdade)
c - detém o domínio ilegitimamente (tirano, parasita)

2) A pessoa oprimida
a - deve vir a Jesus - o gadareno veio até o Senhor
b - deve adorar a Jesus - o gadareno se prostra, reconhecendo que Jesus é Deus e merece adoração

3) A Igreja e a libertação
a - é necessário criar o ambiente de libertação
b - é hora de afirmar o fim dos fatores de alienação
c - a tarefa dos discípulos

III. Pecado versus bânçãos
1) O pecado é normal para o mundo - os vizinhos do gadareno: (Lc 8.35-37)
a - não lhe ofereciam libertação, apenas cadeia
b - usavam de violência para ter a sua submissão
c - não se alegraram pela transformação do gadareno
d - ficaram indignados pelo prejuízio nos negócios impuros
e - terror do juízo divino (Jo 1.11: "Veio para o que era seu, e os seus não o receberam")

2) Bênçãos são normais para quem se dispõe a seguir a Jesus (Lc 8.35)
a - antes nu, agora vestido: alegria e liberdade com dignidade (Gn 3.21: "Fez o Senhor Deus vestimenta de peles para Adão e sua mulher e os vestiu")
b - perfeito juízo: discernimento para crer e conviver (Ef 4.23: "e vos renoveis no espírito do vosso entendimento")
c - assentado: parou de andar obssessivamente e descansou (Mt 11.29: "Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma")
d - para a pessoa liberta,há razões para viver, celebrar e espontaneamente anunciar as bênçãos do Senhor

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Onde estava Deus? (Neander Kraul de Miranda Pinto)

Carta escrita ao jornal O Globo (Rio de Janeiro), mas não publicada

"Onde estava Deus naqueles dias?"
Sintomático o espanto do papa em sua visita a Auschwitz. Estranho, para o principal líder de significativa parte da Igreja Cristã, a pergunta "por que Deus, o Senhor, permaneceu em silêncio"?
Será que o pontífice esqueceu as lições da história e prefere, hoje, transferir a responsabilidade das loucuras e pecados da humanidade que teimosamente rejeita o conselho de Deus para o próprio Senhor? Será que Bento XVI se esqueceu de sua participação na Juventude de Hitler? Será que a Bíblia perdeu o sentido para Joseph Ratzinger e os princípios da responsabilidade humana devem ceder lugar para os discursos "politicamente corretos" mas inteiramente desprovidos de valor moral e espiritual?
Prezado Papa, milhares sabem "onde estava Deus naqueles dias". Enquanto a maioria dos católicos e protestantes alemães seguia a um dos mais insanos personagens da história, Ele, o Senhor, estava na cela de Dietrich Bonhoeffer, um jovem pastor dissidente, respondendo aos mais profundos questionamentos humanos com mensagens que dão sentido à vida e ainda valem para os espantados de nosso tempo. Prezado Pontífice, a questão central não é "onde está Deus"? O fulcro do problema é "onde estamos nós"? Quem somos nós?
Permita-me sugerir este poema de Dietrich Bonhoeffer, que sabia onde estava Deus e quem ele, Bonhoffer, era.

QUEM SOU EU?
Dietrich Bonhoeffer

Quem sou eu? Seguidamente me dizem
que saio da minha cela tão sereno, alegre e firme
qual dono de um castelo.
Quem sou eu? Seguidamente me dizem
que da maneira como falo
aos guardas, tão livremente,
como amigo e com clareza
parece que eu esteja mandando
Quem sou eu? Também me dizem
que suporto os dias de infortúnio
impassível, sorridente e com orgulho
como um que se acostumou a vencer.
Sou mesmo o que os outros dizem de mim?
Ou apenas sou o que sei de mim mesmo?
Inqueto, saudoso, doente,
como um passarinho na gaiola,
sempre lutando por ar, como se me sufocassem,
Faminto de cores, de flores, às vezes de pássaros.
Sedento por palavras boas, por proximidade humana,
tremendo de ira a respeito da arbitrariedade e ofensa mesquinha.
Nervoso na espera de grandes coisas,
em angústia impotente pela sorte de amigos distantes,
cansado e vazio até para orar, para pensar, para produzir,
desanimado e pronto para me despedir de tudo?

Quem sou eu? Este ou aquele?
Sou hoje este e amanhã um outro?
Sou porventura tudo ao mesmo tempo?
Perante os homens um hipócrita?
E um covarde, miserável diante de mim mesmo?
Ou será que aquilo que em mim perdura,
seja como um exército em derradeira fuga,
à vista da vitória já ganha?
Quem sou eu?
A própria pergunta nesta solidão,
de mim parece pretender zombar.
Quem quer que sempre eu seja,
Tu me conheces, oh, meu Deus,
SOU TEU.

Atenciosamente,

Neander Kraul de Miranda Pinto, pastor batista

quinta-feira, 10 de abril de 2008

É "feio" não concordar (com a maioria)? (Else Amelia de Moraes Vergara)

Publicado pela Revista Soma Ano 2 - Nº 4 junho/2005 (http://www.agenciasoma.org.br/)

Debate sobre o ensino do criacionismo em escolas reflete preconceitos contra a cultura evangélica Por esta cidade onde trabalho, moro e ando, entre perigosos projéteis, convivo com jovens sem futuro ou passado. Meus alunos não querem saber quem fez o quê, quando, onde ou por quê. O que importa nem sequer é o hoje, mas o agora. A pós-modernidade foi se construindo aos poucos e a alienação é quase um objetivo de vida. Os desejos são consumíveis. Mesmo com todos os riscos, há muita promiscuidade. Nelson Rodrigues disse que suas histórias refletiam a sociedade... Aquelas coisas escondidas, hoje tão ululantes. Há pouco, vi uma jovem em situação constrangedora. Um grupo de adolescentes assistia a uma palestra sobre sexualidade. Foi-lhes perguntado sobre a importância, ou não, da virgindade. A esmagadora maioria optou pelo não. Pouquíssimos, timidamente, discordaram. O palestrante, então, escolheu um representante de cada partido e deu a palavra a um por vez: a moça confiante, que desprezava a virgindade enquanto instituição, e a tímida mocinha vestida com a carapuça de arcaica. Antes de falar, esta ouviu, embaraçada, a defesa condescendente do sexólogo: “Gente, temos que respeitar todas as opiniões”. Se foi necessário dizer isso, a priori a opinião já estava condenada a não ser “respeitável”. O caso é: Qual o valor da opinião? Posso achar, por exemplo, que a queda de Satanás talvez tenha provocado a divisão dos continentes. É opinião. Que tal outra? No Rio Grande do Sul, alguns evangélicos se reúnem para tomar cerveja, mas não jogam futebol, que consideram pecaminoso. No Rio, parece ser o contrário. São divergentes opiniões sobre as mesmas coisas. É “feio” não concordar com a maioria? A propósito, é realmente maioria, ou fazem mais barulho? E em relação à origem do Universo? Criacionismo, evolucionismo, mitos orientais, africanos, indígenas... Nosso euroamericacentrismo educacional nos aproxima institucionalmente de Darwin e sua macacada. Muitos professores de Ciências e Geografia – que lidam mais com o assunto – são evolucionistas convictos e seu discurso cientificista trata com desdém o “mito” criacionista. A escola, excluindo-se a confessional, tem uma posição neutra, ficando quase sempre refém da preferência do professor. Quanto mais os indefesos alunos! Estão à mercê de alguém que terá, ou não, uma postura ética. Uns, mais carismáticos, seduzem com esta ou aquela ideologia e seus pupilos jurarão ser a mais imutável lei, verdade absoluta. A maioria dos brasileiros não pensa muito na origem. Talvez ache pretensioso demais. Está mais preocupada com coisas imediatas, comestíveis até. Várias pessoas contam nunca terem estudado o assunto. Vai ver nem repararam! Uma vez, meu filho sofreu perseguição por insistir em rebater a teoria evolucionista no colégio, baseado nas leis da termodinâmica. Levou para a aula de Biologia livros, vídeos, e... conquistou o ódio da professora. A legislação Em concordância com a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) 9394/96, o decreto 31.086/02 regulamenta o ensino religioso nas escolas públicas do Estado do Rio de Janeiro e orienta a “convivência para o diálogo numa sociedade pluralista, permeada de tradições religiosas”. A classe docente, porém, desconfia de um suposto proselitismo do governo estadual, associado aos evangélicos. Já os defensores da inclusão do criacionismo no currículo não querem que isso ocorra por meio do ensino religioso e, sim, como matéria científica e cultural. A cultura evangélica – criacionista – pertence ao ideário nacional, assim como a cultura indígena e a cultura iorubá, dos afro-descendentes. Segundo um levantamento da secretaria de Educação fluminense, 25 por cento dos alunos vêm da cultura evangélica. Cultura, sim, pois o aluno carrega para a escola o pensamento do seu grupo familiar, como o de qualquer outro grupo a que pertença. Essa cultura tem que ser respeitada pela escola. O processo de aprendizagem deve incluir a expansão do universo cultural do aluno, sem destruir o universo original.
Else Amelia de Moraes Vergara
Musicista e educadora, membro da igreja Metodista

sábado, 5 de abril de 2008

Libertos por Cristo para anunciar a graça - Lucas 8.26-39

L. Pereyra

Introdução:
O texto é claro. Jesus chega a uma vila dos gadarenos, próxima ao Mar da Galiléia. Aquela região (Decápolis) havia séculos fora cedida pelos dominadores assírios a outros povos, mistruando assim as antigas linhagens israelitas, com a finalidade de quebrar-lhe a identidade cultural e política.
A espiritualidade do povo local era principalmente pagã, com apenas alguns traços das antigas tradições israelitas. Suas formas de culto estavam repletas de superstições e alheias às crenças bíblicas de seus antepassados. A adoração a divindades pagãs e formas bizarras de religião punham as pessoas em contato com práticas ocultistas em cerimônias que invocavam entidades condenáveis. O homem que foi ao encontro de Jesus representava a profunda opressão espiritual e ignorância religiosa em que vivia o povo do lugar, necessitando de libertação e sentido para a sua vida.
Tese:
Só Jesus nos leva a uma experiência que liberta e inspira a anunciar a graça maravilhosa do Senhor

I. O gadareno, antes e depois de seu encontro com Jesus

1) Antes - Lc 8.27-31:
a - desfigurado: ferido
b - atormentado: andava de dia e de noite
c - enfurecido: louco indomável
d - indigno: separado de todos, em lugar ermo e impróprio
2) Depois - Lc 8.35-39:
a - lúcido e tratável: comportamento e aparência normais
b - pacificado: aos pés de Jesus
c - manso e amigável: desejando a companhia de Jesus
d - reabilitado socialmente: testemunha da graça de Deus

II. Duas etapas e uma lição no processo de recuperação
1) O espírito imundo
a - dissimulado: vive do engano e ilusão (aliena, enlouquece)
b - não quer ser importunado: recusa o desafio, pois é fraco (teme o confronto com a verdade)
c - detém o domínio ilegitimamente (tirano, parasita)
2) A pessoa oprimida
a - deve vir a Jesus - o gadareno veio até o Senhor
b - deve adorar a Jesus - o gadareno se prostra, reconhecendo que Jesus é Deus e merece adoração
3) A Igreja e a libertação
a - é necessário criar o ambiente de libertação
b - é hora de afirmar o fim dos fatores de alienação
c - a tarefa dos discípulos

III. Pecado versus bânçãos
1) O pecado é normal para o mundo - os vizinhos do gadareno: (Lc 8.35-37)
a - não lhe ofereciam libertação, apenas cadeia
b - usavam de violência para ter a sua submissão
c - não se alegraram pela transformação do gadareno
d - ficaram indignados pelo prejuízio nos negócios impuros
e - terror do juízo divino (Jo 1.11: "Veio para o que era seu, e os seus não o receberam")
2) Bênçãos são normais para quem se dispõe a seguir a Jesus (Lc 8.35)
a - antes nu, agora vestido: alegria e liberdade com dignidade (Gn 3.21: "Fez o Senhor Deus vestimenta de peles para Adão e sua mulher e os vestiu")
b - perfeito juízo: discernimento para crer e conviver (Ef 4.23: "e vos renoveis no espírito do vosso entendimento")
c - assentado: parou de andar obssessivamente e descansou (Mt 11.29: "Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma")
d - para a pessoa liberta,há razões para viver, celebrar e espontaneamente anunciar as bênçãos do Senhor

Conclusão:
Qualquer pessoa pode ter, por meio de Cristo, a experiência de passar do 'antes' para o 'depois'.
Qualquer que usar a fé na mensagem amorosa de Jesus pode ser liberto das condições de culpa e vergonha e passar a ser um seguidor de Jesus Cristo.
Todos que experimentam o poder transformador do Evangelho sentem o impulso de anunciar a graça do Senhor, como depoimento pessoal de fé.

"Tempo de chorar..." (Clemir Fernandes)


Reflexões de um amigo, o pastor batista Clemir Fernandes.

"Tempo de chorar..."

Uma perspectiva bíblica do luto


"Há tempo para todo propósito debaixo do céu.
Tempo de prantear e tempo de dançar" (Ec 3.1b, 4).
Fomos feitos para viver e viver em plenitude de vida, conforme nos ensina a Bíblia, desde primeiro capítulo do Gênesis quando Deus cria uma casa-jardim para o primeiro casal. Até o Apocalipse, passando especialmente pelo ministério de Jesus, todo o Novo Testamento aponta para a valorização e celebração da vida humana (cf. Jo 10.10b; Mt 4. 23.24 etc). Por isso sabemos fazer uma festa, reunir os amigos, celebrar a alegria.
Já a morte, bem... não fomos feitos para a morte, entretanto, com o advento do pecado (Gn 3), sofremos o castigo da finitude. Mas como enfrentar a perda, a separação de quem a gente ama? É fato que na mesma proporção em que sabemos organizar uma festa para celebrar a vida, de igual modo não sabemos devidamente como enfrentar a perda e viver o luto! Como viver coerentemente e também biblicamente esses momentos? É em torno destas questões que nos deteremos a seguir, objetivando que a Palavra de Deus, supremamente, nos oriente a viver sabiamente essa difícil e delicada situação.
UM SERVO DE DEUS FICA DE LUTO OU CHORA DIANTE DA MORTE?
Por mais que aparentemente sejam absurdas estas questões, elas se justificam em função de muitas pessoas acreditarem e defenderem, convictas de estarem corretas, de que um servo de Deus não chora – ou não deveria chorar – em face ao falecimento de alguém.
Mas, como agir diante da morte ou como enfrentar a perda de alguém que a gente ama? Um cristão ficaria enlutado ou deveria guardar luto?
Luto, segundo nossos dicionários, é um sentimento de dor ou pesar pela morte de alguém. Compreendendo assim, como um servo de Deus não ficaria de luto, se ele também enfrenta a morte de pessoas a quem ele ama? Além disso, como não honraria a memória daquele que partiu, guardando por um tempo, abster-se de certas práticas e comportamentos?
A Bíblia possui várias passagens que menciona luto, isto é, sofrimento e pesar pela morte de alguém querido. Vejamos alguns destaques no contexto do Antigo Testamento.
1. Abraão, o maior dos patriarcas, o "pai de nossa fé", chora a morte de sua esposa Sara (Gn 23.2);
2. José lamenta a morte de seu pai, Jacó, por ele faz grande pranto e, com os egípcios fica de luto por mais de 70 dias... (vale a pena ler e meditar no texto de Gênesis 50.1-13);
3. Arão, o velho sumo-sacerdote, morre e a lamentação-luto de todo o povo de Deus por ele dura um mês (Nm 20.29).
4. No final do livro de Deuteronômio, lemos acerca daquele que foi o grande libertador do povo de Deus no Antigo Testamento, Moisés: "Os filhos de Israel prantearam a Moisés por trinta dias nas planícies de Moabe; e os dias do pranto no luto por Moisés se cumpriram (Dt 34.8).
5. Davi, "o homem segundo o coração de Deus", chora e faz poesia para homenagear Jônatas, seu amigo, e Saul, o rei, embora este o tivesse perseguido, conforme lemos em 1Samuel 1.17-27. Também chora e fica enlutado por outras pessoas, como a Abner (2Sm 3.31-39), Absalão (2Sm 18.33) etc.
Chorar é da condição humana, é um atributo de nossa natureza feita pelo próprio Deus. Assim como rir é natural, também o é o ato de chorar. Como entender, pois, que em nossas igrejas, já tenhamos ouvido reprimendas a alguém que chora a perda de um ente-querido ou ensinos de que não devemos nos expor no lamento, pois isso "não seria um bom testemunho de um cristão"?
Viver o luto, aquele mais pesado nos tempos iniciais após a partida da pessoa querida, e mesmo o luto mais leve quando nossa alma já está mais serena em função do ocorrido, é uma experiência indispensável e fundamentada na Bíblia, como vimos acima, e também terapêutica, como ensinam profissionais de ciências humanas.
LAMENTO E LUTO NO NOVO TESTAMENTO
O que nos ensina ou menciona o Novo Testamento acerca da morte, do choro e do luto? Vejamos alguns textos, mesmo de maneira abreviada.
1. Uma das primeiras menções a choro e lamentação, devido à morte de pessoas, temos em Mateus 2.16-18, onde é narrado o assassinato das crianças feito por Herodes e o desespero de Raquel, que perde seus filhos. Embora seja um registro curto, revela-nos um quadro dramático de profunda dor e lamento.
2. Em Lucas 7.11-17, lemos sobre o choro da viúva de Naim, por causa da morte de seu filho, bem como a manifestação de solidariedade de Jesus, ao acolher e consolar a mãe e, sobretudo, ressuscitar o falecido.
3. Ainda em Lucas 8.49-56 temos o registro da morte da filha de Jairo e da grande lamentação que os presentes faziam. Jesus chega e diz a todos para não chorarem, pois a menina "não está morta, mas dorme". Alguém poderia concluir aqui que Jesus não quer que a gente chore diante da morte, quando na verdade ele recomenda o cessar do pranto, pois vai transformar, naquele instante, a morte em vida.
4. Lucas faz ainda dois registros específicos de lamentação da parte de Jesus por causa da cidade de Jerusalém, seu povo, que haveria de perecer, de morrer, porque não aceitara os profetas que lhes fora enviado, nem mesmo sua própria palavra (Lc 13.31-35; 19.41-44).
5. Certamente o mais contundente texto sobre a dimensão humana de Jesus perante a morte está registrado em João 11.1-44, que é o episódio do falecimento de Lázaro. O versículo 31 informa que os judeus consolavam a Maria, que chorava a morte de seu irmão. O versículo 33 diz textualmente: "Jesus, pois, quando a viu chorar, e chorarem também os judeus que com ela vinham, comoveu-se em espírito, e perturbou-se. Em seguida, ao chegar à sepultura de Lázaro, temos o registro da informação, conhecida como o menor versículo da Bíblia: "Jesus chorou" (Jo 11.35). Sim, é isto mesmo, diante da morte de seu amigo, que ele sabia que ia acontecer e que também sabia que iria ressuscitá-lo, ainda assim, em meio à dura realidade da perda, mesmo temporária, o filho de Deus não teve, inicialmente, outra atitude, que não o lamento, o choro.
Analisando toda a narrativa, percebemos que o pranto de Jesus é por Lázaro, pelas irmãs, pelos amigos e por todos que estavam aflitos, afinal, o sofrimento causado pela morte é de uma dimensão inigualável. O filho de Deus chora, perturba-se e é solidário com a dor daquelas pessoas.
Testemunhando aquele quadro os judeus, consternados, comentam sobre Jesus e sua relação com Lázaro: "Vede como o amava" (Jo 11. 36).
De fato, quem ama, chora, lamenta, prateia, enluta-se por causa da morte de uma pessoa querida. Isso é humano, natural, além de uma virtude cristã.
Aquele que de fato ama profunda e intensamente alguém, não pode se manter insensível diante da sua morte. Além de não ser humano nem natural – permita-me reiterar –, pode até ser um sinal de que não tem o coração tocado pela graça e a generosidade de Jesus.
Julgo ser suficiente para o escopo do presente estudo, este registro joanino sobre o choro de Jesus perante a morte, entretanto, ainda farei mais algumas menções quanto aos apóstolos e a igreja primitiva.
6. Embora ele tenha falado de sua ressurreição, os discípulos manifestaram tristeza, e até desespero, com a morte de Jesus (Lc 24.21; Jo 20.20), Madalena chorou (Jo 20.11-13) e certamente muitos outros seguidores de Jesus também.
7. Lucas registra as exéquias da discípula Tabita, no cenáculo em Jope, bem como o choro das viúvas, que testemunhavam de sua vida cristã exemplar (At 9.36-39).
8. Em outra passagem Lucas relata a despedida de Paulo da igreja de Éfeso, quando os líderes reunidos ouviram a prestação de contas do apóstolo. Em função das informações de Paulo, inclusive dos perigos que o aguardavam, a igreja chora, aos prantos, "entristecendo-se principalmente pela palavra que dissera, que não veriam mais seu rosto" (At 20.36-38). Foi a provável iminência da morte de Paulo que levou os líderes de Éfeso ao choro e à tristeza.
Por mais difícil, e mesmo indesejado que seja enfrentar o falecimento de quem a gente ama, devemos considerar o ensino do sábio Salomão, quando diz: "Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete; porque naquela se vê o fim de todos os homens e os vivos o aplicam ao seu coração" (Ec 7.2). Luto, portanto, segundo a Bíblia, é um tempo de reflexão, de meditação, de ampliar a sabedoria, para depois aproveitarmos, mais e melhor, a vida que Deus nos dá.
APRENDER A CHORAR COM OS QUE CHORAM
Chorar com os que choram, isto é, ser solidário e companheiro de quem enfrenta dor, dificuldade, perda, luto, além de ser um elevado valor humano é uma expressa recomendação bíblica (Rm 12. 15b).
Podemos até não conseguir chorar diante da dor e do sofrimento, podemos até não conseguir verbalizar o que estamos sentindo, mas não podemos nos dar ao luxo da insensibilidade, da falta de solidariedade, da manifestação de humanidade.
Viver o luto, lamentar e chorar as pessoas que nos são queridas não é falta de fé, nem de confiança em Deus, nem ainda demonstração de falta de segurança da vida eterna.
Prantear e vivenciar o luto durante o tempo que cada um julgar adequado, não significa falta de comunhão com Deus ou desprezo pelo consolo do Espírito Santo. Estar enlutado não implica ausência de paz, de alegria verdadeira nem da segurança confortadora de Cristo. Não! Embora confiemos e creiamos que "as aflições deste tempo presente não se podem comparar com a glória que em nós há de ser revelada" (Rm 8.18) ainda assim sofremos, choramos e lamentamos com as dores, as perdas, a separação – mesmo temporária – de quem a gente ama. É a dimensão de nossa humanidade, mesmo vivendo sabiamente a espiritualidade cristã.
Em meio ao sofrimento, embora a gente não se angustie, ainda assim sofremos a tribulação; embora não desesperados, mas ficamos perplexos; mesmo não desamparados, mas somos perseguidos; embora não destruídos, mas sofremos abatimento (cf. 2Co 4.8, 9). Este texto bíblico é de esperança, mas inverti propositadamente a ordem de sua apresentação para corroborar, honestamente, a nossa tese.
Confortados e consolados, pois "à vista do Senhor a morte de um servo dele é algo precioso" (Sl 116.15), ainda assim, humanamente, como os patriarcas, os apóstolos e o próprio Cristo, nos entristecemos, choramos e lamentamos a morte daquele a quem amanos. Mesmo conscientes da sustentação mediante a graça e a ternura de Deus.
Luto, conforme apresentamos acima, não é sinal de masoquismo nem de autocomiseração. É uma imperiosa necessidade humana e cristã.
Certamente que as pessoas têm reações diferentes diante da morte, têm maneiras diversas de enfrentar o luto, mas acredito que todos precisamos aprender a viver a dor, a saudade, a perda, que é uma realidade inexorável da condição humana, sem fugir – o que é, no mínimo, ingenuidade – para um outro estágio.
Na sociedade contemporânea, dominada pela idéia ditatorial de felicidade – muitas vezes a qualquer custo – as pessoas não toleram ou não sabem viver de outro jeito senão esbanjando uma felicidade que, na verdade, muitas vezes, inexiste, pois é fruto de máscara social, como dizem os sociólogos.
Seduzidos pela cultura do descartável, tão forte neste tempo, os seres humanos jogam fora, facilmente, um casamento, uma relação profissional, uma amizade, seus valores, tudo em nome de prestígio, poder e privilégios... Assim agindo, não concebem a idéia de honrar a memória de alguém que morreu, então também descartam completamente de seu cotidiano, de sua trajetória e até de sua memória, aquele que partiu para sempre. Os hebreus, nossos antepassados na fé, agiram de maneira muito diferente, como exemplificam os textos apresentados no primeiro tópico deste estudo.

REFLEXÕES FINAIS
Prantear e viver o tempo do luto, mais que uma necessidade terapêutica, mais que uma constatação psicológica, é um ato de sabedoria cristã, de aprendizagem bíblica, de respeito e carinho pela memória daquele que partiu. E é um tempo extremamente fundamental para que depois se possa viver, saudavelmente, um novo ciclo da vida.
Ao reverenciar aqueles que nos deixaram, não agimos com bases em certas doutrinas religiosas que sacralizam ou cultuam os mortos. Não! Ao trazer à memória aqueles a quem amamos, sobretudo quando tiveram uma vida de exaltação a Deus, fazemos nos aproximando do exemplo do autor aos Hebreus, que ao homenagear os heróis da fé, está ao mesmo tempo, glorificando a Deus, a quem todos serviram e por isso mesmo são lembrados (Hb 11.1-40).
Embora a morte não nos deva desesperar, nem mesmo nos fazer perder a lucidez, nem ainda nos destruir, mesmo assim devemos aprender a viver, com sabedoria do alto e sensibilidade humana, estes momentos.
Usando como metáfora o fato da paixão de Cristo, digo que não podemos adiantar a alegria do domingo da Ressurreição. Antes, é imperioso passarmos pela dor, o sofrimento e o choro da sexta-feira da crucificação e morte de Jesus. Sentir o vazio, a solidão, a tristeza aguda, enfim, o luto, do sábado é uma fase que não pode ser extirpada. Somente experimenta, intensa e profundamente, a alegria da renovação da vida ocorrida no domingo de Páscoa, quem não negou, mas viveu existencialmente a dor dos dias antecedentes.
Enquanto damos prosseguimento à missão de Cristo como Igreja Batista Memorial da Tijuca, creio que podemos, e devemos, concomitantemente, viver sabiamente o luto, no tempo necessário, por aquele que foi tomado por Deus no exercício do ministério pastoral de nossa comunidade. O querido, amado, inesquecível, servo valoroso do Senhor e personalidade respeitada do Reino de Deus, nosso pastor Xavier dos Santos Filho, merece todo nosso carinho e homenagem. E tudo isso glorifica a Deus, a quem ele serviu de maneira exemplar.

Clemir Fernandes

O preço do resgate - 1 Pedro 1.17-21

L. Pereyra

  • De que modo a ressurreição de Jesus afeta as nossas vidas?
  • Como podemos nos relacionar com o Cristo ressuscitado de modo relevante?
I - Jesus pagou o resgate para nos libertar do pecado – 1 Timóteo 2.5-6
I.1 – Temos um só Mediador, que é Jesus
a. Ele se deu em resgate por todos, sendo o seu sacrifício assim universal
b. Esse sacrifício é tema central do testemunho - seja discurso ou conduta - e deve pautar o comportamento de todos os crentes
c. embora universal, Deus não impinge o sacrifício de seu Filho a quem não crê, sendo no entanto eficaz apenas para os que crêem e assim agraciando-os com a salvação

II - O valor do resgate pago por Jesus foi a sua vida – Hebreus 9.11-22
II.1 – A nossa salvação custou o sangue de Jesus, conforme a lei dos resgates contida na Torah hebraica (a lei de Moisés)
a. na antigüidade, havia diferentes graus de resgate para diferentes ofensas, podendo chegar à morte, fosse de animal ou pessoa
b. ‘gulah’ (heb., AT) e ‘lytron’ (gr., NT) são termos correspondentes para o nível do sacrifício incruento oferecido por Jesus, diferentemente de outros preços pagos como indenização pela culpa ou responsabilidade em um ato de infração

III. Que qualidade de vida corresponde ao resgate de Jesus? – 1 Coríntios 5-7-8
III.1 – "Lançai fora o velho fermento"
a. a ‘velha criatura’ corrompida pelo pecado deve morrer e dar lugar à 'nova criatura' – "Quem está em Cristo é nova criatura..." – 2 Co 5.17
b. um cadáver crivado de culpas (Colossenses 2.11-15) é o que representa a vida sem a graça de Deus em Cristo
III.2 – Um Cordeiro sacrificado
a. o resgate pago por Jesus teve preço de sangue – Ele é o nosso Cordeiro Pascal, a vítima do sacrifício substitutivo que colocou Jesus em nosso lugar
III.3 – "Massa nova... sem fermento"
a. devemos viver em perfeita ligação com os 'pães asmos' da sinceridade e da verdade (sem o fermento que modifica a aparência da substância) – confirmando a sentença de vida recebida do Senhor e proferindo a verdade que transforma e liberta

Conclusão:
Somente a santidade de propósitos
corresponde ao sacrifício de Jesus e, portanto, devemos pedir que o Senhor nos ajude a viver em permanente consagração de nossas vidas.
O tempo para isso é já.