quarta-feira, 23 de abril de 2008

Libertos por Cristo para anunciar a graça - Lucas 8.26-39

26 Então, rumaram para a terra dos gerasenos, fronteira da Galiléia.
27 Logo ao desembarcar, veio da cidade ao seu encontro um homem possesso de demônios que, havia muito, não se vestia, nem habitava em casa alguma, porém vivia nos sepulcros.
28 E, quando viu a Jesus, prostrou-se diante dele, exclamando e dizendo em alta voz: Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Rogo-te que não me atormentes.
29 Porque Jesus ordenara ao espírito imundo que saísse do homem, pois muitas vezes se apoderara dele. E, embora procurassem conservá-lo preso com cadeias e grilhões, tudo despedaçava e era impelido pelo demônio para o deserto.
30 Perguntou-lhe Jesus: Qual é o teu nome? Respondeu ele: Legião, porque tinham entrado nele muitos demônios.
31 Rogavam-lhe que não os mandasse sair para o abismo.
32 Ora, andava ali, pastando no monte, uma grande manada de porcos; rogaram-lhe que lhes permitisse entrar naqueles porcos. E Jesus o permitiu.
33 Tendo os demônios saído do homem, entraram nos porcos, e a manada precipitou-se despenhadeiro abaixo, para dentro do lago, e se afogou.
34 Os porqueiros, vendo o que acontecera, fugiram e foram anunciá-lo na cidade e pelos campos.
35 Então, saiu o povo para ver o que se passara, e foram ter com Jesus. De fato, acharam o homem de quem saíram os demônios, vestido, em perfeito juízo, assentado aos pés de Jesus; e ficaram dominados de terror.
36 E algumas pessoas que tinham presenciado os fatos contaram-lhes também como fora salvo o endemoninhado.
37 Todo o povo da circunvizinhança dos gerasenos rogou-lhe que se retirasse deles, pois estavam possuídos de grande medo. E Jesus, tomando de novo o barco, voltou.
38 O homem de quem tinham saído os demônios rogou-lhe que o deixasse estar com ele; Jesus, porém, o despediu, dizendo:
39 Volta para casa e conta aos teus tudo o que Deus fez por ti. Então, foi ele anunciando por toda a cidade todas as coisas que Jesus lhe tinha feito.

Introdução:
O texto é claro. Jesus chega a uma vila dos gadarenos, próxima ao Mar da Galiléia. Aquela região (Decápolis) havia séculos fora cedida pelos dominadores assírios a outros povos, mistruando assim as antigas linhagens israelitas, com a finalidade de quebrar-lhe a identidade cultural e política.
A espiritualidade do povo local era principalmente pagã, com apenas alguns traços das antigas tradições israelitas. Suas formas de culto estavam repletas de superstições e alheias às crenças bíblicas de seus antepassados. A adoração a divindades pagãs e formas bizarras de religião punham as pessoas em contato com práticas ocultistas em cerimônias que invocavam entidades condenáveis. O homem que foi ao encontro de Jesus representava a profunda opressão espiritual e ignorância religiosa em que vivia o povo do lugar, necessitando de libertação e sentido para a sua vida.
O encontro pessoal com Jesus tem poder tremendamente transformador. Pode-se afirmar que na vida de alguém sobre quem Jesus incide esse poder há, nitidamente, um antes e um depois desse encontro.
Em uma estada do Senhor em Decápolis, região cujos habitantes descendiam da mestiçagem genética, cultural e religiosa, com o conseqüente abandono da tradicional religiosidade judaica, e ali Jesus se defrontou com um homem gadareno cujo espírito estava refém do pecado arrasador e destruidor do caráter. Esse homem já perdera as referências de sua identidade, dignidade e objetivo de vida; ele pertencia a um poder que não podia controlar, mas que o controlava e humilhava. As pessoas de sua comunidade nada podiam fazer para ajudá-lo e apenas o queriam longe de suas vidas e seus negócios.
Mas a experiência do gadareno com o Cristo marcou o fim de sua escravidão espiritual e o libertou para ter personalidade e dignidade de volta, como isso também o animava a testemunhar do favor de Deus.

Só Jesus nos leva a uma experiência que liberta e inspira a anunciar a graça maravilhosa do Senhor

I. O gadareno, antes e depois de seu encontro com Jesus
1) Antes - Lc 8.27-31:
a - desfigurado: ferido
b - atormentado: andava de dia e de noite
c - enfurecido: louco indomável
d - indigno: separado de todos, em lugar ermo e impróprio

2) Depois - Lc 8.35-39:
a - lúcido e tratável: comportamento e aparência normais
b - pacificado: aos pés de Jesus
c - manso e amigável: desejando a companhia de Jesus
d - reabilitado socialmente: testemunha da graça de Deus

II. Duas etapas e uma lição no processo de recuperação
1) O espírito imundo
a - dissimulado: vive do engano e ilusão (aliena, enlouquece)
b - não quer ser importunado: recusa o desafio, pois é fraco (teme o confronto com a verdade)
c - detém o domínio ilegitimamente (tirano, parasita)

2) A pessoa oprimida
a - deve vir a Jesus - o gadareno veio até o Senhor
b - deve adorar a Jesus - o gadareno se prostra, reconhecendo que Jesus é Deus e merece adoração

3) A Igreja e a libertação
a - é necessário criar o ambiente de libertação
b - é hora de afirmar o fim dos fatores de alienação
c - a tarefa dos discípulos

III. Pecado versus bânçãos
1) O pecado é normal para o mundo - os vizinhos do gadareno: (Lc 8.35-37)
a - não lhe ofereciam libertação, apenas cadeia
b - usavam de violência para ter a sua submissão
c - não se alegraram pela transformação do gadareno
d - ficaram indignados pelo prejuízio nos negócios impuros
e - terror do juízo divino (Jo 1.11: "Veio para o que era seu, e os seus não o receberam")

2) Bênçãos são normais para quem se dispõe a seguir a Jesus (Lc 8.35)
a - antes nu, agora vestido: alegria e liberdade com dignidade (Gn 3.21: "Fez o Senhor Deus vestimenta de peles para Adão e sua mulher e os vestiu")
b - perfeito juízo: discernimento para crer e conviver (Ef 4.23: "e vos renoveis no espírito do vosso entendimento")
c - assentado: parou de andar obssessivamente e descansou (Mt 11.29: "Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma")
d - para a pessoa liberta,há razões para viver, celebrar e espontaneamente anunciar as bênçãos do Senhor