segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

INDENSIDADE

Vivemos um tempo de intensa ansiedade na produção, nas comunicações, nos relacionamentos. Somos em geral o povo do desperdício, do descarte, com tudo muito efêmero. Portanto, nossas expressões espelham o nível de permanência das coisas e pessoas no dia-a-dia de todos nós. Agilidade se confunde com trivilaidade e informalidade, numa busca imediatista pelo instantâneo e passageiro.
Desejamos descomplicar, mas reinventamos o superficial, a coisa sem densidade e, portanto, sem importância. Afinal, uma coisa não precisa ser importante se o que desejamos é a mudança permanente.
Incorporamos a mudança, pois passamos a deplorar tudo que é permanente. Apenas o estado de mudança é a única coisa que não pode mudar. Abjetamos a tradição, a antigüidade, deploramos qualquer coisa que nos ameaçe fixar a algum padrão.
Mudamos estilos, lugares, pessoas. Mudamos a língua, a escrita, o modo de fazer as coisas. Quando falamos, dizemos sempre o novo e, por isso mesmo, sem profundidade. Quando pensamos, não há tempo para amadurecer o em que se pensa e, justo por isso, pensamos raso e redundantemente. Quando cantamos, nós o fazemos muitas vezes de modo pueril, pois nos recusamos a adensar os sentimentos ou amadurecer emoções ao ponto de exprimir e esgotar a carga que nos vai n'alma.
Paradoxalmente, essa busca em vão pelo sempre-novo, o inédito, ela justamente é que nos impede a completa renovação. Pelo simples fato de que não nos damos tempo de completar os ciclos estabelecidos. Aceitamos ser desestabelecidos pela tentativa de nos reestabelecer, mas não o alcançamos. Isso, por pura precipitação, pressa de renovar.
E eis o paradoxo. Tentando o novo, impedimos justamente que o novo se concretize. Falta-nos paz e serenidade para aceitar que, a seu tempo, o novo nasça do cansaço natural do velho.
É disso que sofrem na pós-modernidade, isto é, em nossa época, as nossas letras, a nossa ciência e a nossa arte. São novas, mas não são frutos de ciclos que se completaram, dando espaço ao novo. É uma sucessão de prematuros malformados que, nesses campos da expressão da inteligência humana, não se viabilizam por serem insustentáveis.