Ok, fim do Kit Gay. Mas e a batalha contra a corrupção, pelo meio ambiente e o fim da miséria?
Por Lenildo Medeiros
A celebrada vitória da bancada de deputados e senadores cristãos do Congresso Nacional no que diz respeito ao fim da distribuição do chamado Kit Gay pelos ministérios da Educação e da Saúde é importante e atende, de fato, ao anseio da maioria do povo brasileiro. A preocupação já vinha sendo manifestada por pais em várias frentes. Até em conversas de festas infantis (que costumo frequentar com meu filho), a maioria dos pais (mesmo aqueles que não professam qualquer religião e não frequentam qualquer igreja) faz o discurso de que é absurda esta onda gay nas arenas de poder e na mídia brasileira, especialmente a Rede Globo, querendo passar a ideia de naturalidade quanto a opção sexual por pessoas do mesmo sexo. No entanto, a batalha deve também ser motivo de outra reflexão. Nossa missão só vai até aí? Como pode a bancada cristã, que ama o Deus Criador, estar na votação do Código Florestal apenas para falar do tal kit? Mas e a questão da vida no Planeta? E o jogo de interesses posto à mesa naquela votação? Não tinha a mesma importância?
Assisti ao vivo ao momento em que os deputados foram ao microfone para falar do kit durante a votação do Código Florestal na terça-feira, 24/5. Fiquei atento, e até considerei um avanço estratégico inteligente, a força daquela união de católicos e evangélicos pela família, usando o regimento para influir e provocar a vitória parcial que veio no dia seguinte, quarta-feira, 25 (digo “parcial” porque há outras lutas decisivas neste campo da família a serem travadas ainda nos próximos meses). Mas também fiquei espantado com a omissão (na mesma intensidade) dos mesmos líderes cristãos em relação a assuntos da pauta do Congresso naquele dia.
Primeiro, a questão do cuidado com o meio ambiente. A votação do Código Florestal em curso e nenhuma palavra enfática, nenhum movimento de defesa das matas e do ecossistema brasileiros proposto, nenhum e-mail se espalhando por todas as caixas postais em tom desesperado (como tem acontecido com temas familiares e morais), nenhum abaixo assinado, passeata, encontro, reunião, nada! Como pode haver tal discussão no Congresso e os filhos do Criador se omitirem assim? Votando com a maioria, sem participação ativa, sem levar a sério o tema? A vida só deve ser defendida no âmbito das questões que afetam o lar, a família, o casamento? Mas e as vidas que se perdem na falta de água, nas tragédias naturais, na opressão, na injustiça, nos interesses escusos de latifundiários e multinacionais? Isso também não é imoral?
Segundo, a luta contra a corrupção. É inacreditável, mas uma das formas utilizadas pelas frentes cristãs unidas contra o Kit Gay foi ameaçar o governo com uma convocação ao ministro Palocci para apurar as denúncias de enriquecimento ilícito. Mas como ameaçar fazer algo que seria, de fato, uma obrigação de qualquer parlamentar? Se houve tráfico de influência ou coisa assim não é também imoral? A convocação não é obrigação ética? Até para esclarecer de uma vez por todas o assunto e inocentar ou punir, de acordo com as conclusões? Como pode deixar de convocar? Isto não é ser omisso na luta contra a corrupção? Corrupção não é tão nefasta quanto a noção de que os kits incentivam crianças ao homossexualismo?
Terceiro, a guerra contra a miséria. Nós cristãos sabemos que tem sim coisa pior que ver alguém com fome, sem casa, pisando em vala imunda, analfabeto, gritando de dor numa fila de hospital. Quem crê na Bíblia sabe que o “choro e o ranger de dentes” eterno é pior. Mas de maneira alguma isso significa um incentivo ao descaso com a dor humana nos dias de hoje, neste planeta! A luta contra a injustiça social é, sim!, tarefa da missão cristã em nossa geração. E os líderes políticos precisam ampliar sua visão do que seja defender a família, a criança, o adolescente, o idoso, o casal, o homem e a mulher. Afinal, todos precisam de alimento, água, moradia, hospital, escola, emprego e renda, saneamento básico, mobilidade urbana. E a política, tanto na esfera executiva ou parlamentar, tanto no âmbito federal, estadual ou municipal, deve prover tudo isso, no sentido mais pleno e humano de cada termo. Para além de apenas planos, estatísticas, orçamentos. Coisa séria, com legitimidade, veraz!
A reunião de católicos e evangélicos com o secretário-geral da presidência da República, Gilberto Carvalho, representando a presidenta Dilma Rousseff, aconteceu nesta quarta-feira, 25/5. Segundo deputados presentes, entre eles João Campos, presidente da Frente Parlamentar Evangélica, Eros Biondini, representando a Frente Parlamentar Católica, Anthony Garotinho, ex-governador do Rio de Janeiro, e Pastor Lucena, da Frente Parlamentar da Família, nela foi assegurado o fim da distribuição de qualquer cartilha antiga ou vídeo pelos ministérios da Saúde ou Educação contendo cenas de sexo explícito ou estímulo a opção sexual diferenciada, e foi anunciado o compromisso de que nenhum vídeo ou nova cartilha seria confeccionada sem a participação de representantes das bancadas católica e evangélica. Que chegue rápido o dia em que tais frentes pela família incluam em suas agendas de lutas a defesa (tão veemente quanto nas questões familiares) das florestas e dos rios, da ética na política e do fim da miséria e da injustiça social.
Fonte: agenciasoma.org.br